O Patriarcado de Lisboa partilhou nas redes sociais um quadro elaborado por uma associação de direito à vida, a Federação Portuguesa pela Vida, que resumia a posição dos diversos partidos face a diversos temas da "ideologia de género", incluindo o aborto, a eutanásia, as barrigas de aluguer, a prostituição e a liberdade de educação, e apelando ao voto nas eleições para o Parlamento Europeu nos partidos que defendem a vida, ou seja, que são pela criminalização do aborto e da eutanásia, e talvez as outras. Mais tarde retirou a publicação e classificou-a como uma imprudência, ou por ter ponderado que a recomendação incluía algum partido em cujas posições o Patriarcado não se revê, ou por preferir manter-se acima da luta política abstendo-se de fazer recomendações de voto.
Não é a primeira vez que a Igreja faz recomendações de voto em eleições.
Nas primeiras eleições a seguir ao 25 de Abril, realizadas em 25 de Abril de 1975 para eleger a Assembleia Constituinte, o pároco de uma pequena paróquia no Alto Minho ponderou que o melhor voto dos seus paroquianos devia ser no CDS, e na missa que antecedeu as eleições comunicou-lhes essa recomendação.
Mas fez mais, sendo uma paróquia com uma elevada proporção de gente de idade e analfabeta decidiu ajudá-los a localizar o CDS no boletim de voto. Assumiu que o boletim de voto devia ter os partidos dispostos por ordem alfabética e recomendou o voto no terceiro quadrado.
E nas primeiras eleições da nossa jovem democracia a mesa de voto dessa paróquia do Alto Minho teve uma esmagadora vitória da Frente Socialista Popular, um grupo de dissidentes do Partido Socialista que sairam pela extrema-esquerda para fazer a revolução popular.
Apesar de ser uma secção praticamente confidencial deste blogue para o qual que tenho a honra de contribuir, vou continuar a traduzir Marcelo, para os que possam considerar útil a tradução.
Talvez mais por inteligência do que por educação, e certamente que não por mero formalismo institucional, o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa nunca será ouvido a chamar asno a um político. Isso não significa que ele seja mentiroso, como alguns que gostavam de o ver apontar mais para os asnos, que os há, receiam, mas apenas que há outros instrumentos mais eficazes para erradicar a asneira da vida política portuguesa do que apontá-la e despertar nos asnos um instinto de entrincheiramento que os pode ajudar a prolongar a asneira e a justificar os seus falhanços com base em críticas e condicionamentos por terceiros.
Isto dito, vamos passar à análise propriamente dita. A frase de hoje é "Estado laico tem sido sábio ao não atacar a Igreja".
O que é que isto significa?
Significa o que parece? Facto!
Significa que não há "menos sábios" no Estado laico, que se proponham atacar a igreja? Não está no texto.
O que isto significa é mesmo que há "menos sábios", no Estado como na sociedade, a promover causas como o ataque aos colégios com contratos de associação, em que atacar a igreja é, se não o principal objectivo declarado, um dos objectivos bem evidentes. E o presidente, continuando a não apontar para eles, não deixou de dizer, outra vez, e desta vez com menos ambiguidade do que tem sido seu hábito, que sabe bem quem eles são e onde eles estão.
Como seria de esperar de um camaleão supremo, cujo princípio mais ético é conduzir com um olho no boletim de voto e outro no eleitor, e cinquenta mil alunos são, à razão de dois progenitores por aluno, cem mil eleitores, o primeiro ministro correu a acalmar os ânimos que as exaltações anti-clericais dos seus asnos inquietaram. Enquanto aquela gente tiver direito de voto, não se lhe vão tirar os meninos do colégio.
PS: Esta semana, o presidente ainda disse outra frase.
Esta não tem ambiguidade nenhuma. O presidente anda, ou a perder o treino, ou a paciência.
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