Quem achou que o estupendíssimo Paulo Morais não vinha peritar as inundações, apontando as culpas à "especulação imobiliária" e à "corrupção urbanística", é um ovo podre – para estabelecermos o tom.
Por partes: “manutenção”, dr. Morais, a sério? Usar “10% do orçamento” anual dos municípios a aplicar remendos em cima de colectores velhos, deteriorados, e com o diâmetro insuficiente, como o senhor sugere fazer, entregando boa parte dos recursos públicos a empresas e a “técnicos” que não vão (nem podem) resolver o problema, tem outro nome. Incúria? Irresponsabilidade? Amadorismo? Descaramento? Escolha o que o senhor preferir. Eu sei o que lhe chamava.
Muito resumidamente, estimado estudioso: "manutenção" é o capítulo correcto, por exemplo, para o dinheiro e o esforço que o senhor reserva para podar a sua cabeleira.
De resto, dr. Morais, esqueça as redes hidráulicas. Se não sabe, não sabe, a Pátria está disposta a perdoar-lhe. Mas se insiste em arrastar o seu fanatismo e a sua madraçaria pelas páginas dos jornais, reveja a sua prosa, o vocabulário, as graçolas e os trocadilhos. O seu pensamento tem qualidades espantosas, convém que isto fique esclarecido. É uma pena que as mostre tão frágeis, empardecidas em calão. O senhor repete-se, usa expressões infantis e frases próprias de um menor de 11 anos que leva chapadas dos amigos no recreio. “Boys”, “tachos”, “apaniguados”, “cacicar”, e “vingança da natureza sobre a má gestão urbana” – não falta nada, Deus o ajude. Chamar “nabos” (a medo, com aspas e tudo) aos responsáveis autárquicos, para chamar “nabal” às autarquias, e assim forçar o chavão do título (Chuva no Nabal) é o remate da sua miséria linguística, dr. Morais, e da imaturidade que não se recomenda a um professor universitário.
Todos os anos ou quase, desde que me lembro, assim que chove com um bocadinho mais de força, Lisboa sofre inundações. Exactamente nos mesmos sítios, que toda a gente conhece: são os bairros mais antigos, onde vivem os mais velhos e os mais pobres.
Estas “surpresas” são o resultado directo de um sistema de drenagem obsoleto, subdimensionado, e parcialmente em ruínas, que não assegura o caudal suficiente para aguentar as águas da chuva mais as águas do Tejo se for dia ou noite de maré cheia. O dr. Costa sabe disto, como souberam todos os anteriores presidentes. A Câmara Municipal de Lisboa não tem falta de engenheiros num serviço que antigamente se chamava “de Infra-estruturas e Subsolo” e deve ter agora um nome mais macio.
As obras necessárias para corrigir estas redes são de uma dimensão e de um preço que não se ajustam a um único mandato autárquico (nem 2 e, possivelmente, nem 3 ou 4), e muito menos se ajustam à respectiva campanha eleitoral. Que eu tivesse visto, nenhum candidato sentou a sua importância na cadeira mais alta do município com promessas de obras debaixo do chão, onde causam transtorno mas não atingem a visibilidade e a glória dos pavilhões multiusos e dos recintos para regabofes interactivos. Nem nunca os artistas de trazer por esta casa estariam dispostos a defender semelhante indignidade.
O melhor é esperarmos pela volta do sol. Que a conversa das sarjetas suje o facebook, preencha os espaços mortos dos noticiários, e faça títulos extravagantes nos jornais, decorre da natureza parda do problema e reflecte a irrelevância do nosso jornalismo. Ainda que as sarjetas rebrilhassem de limpeza, ninguém nos livrava das inundações. Quem aproveita com o erro é o sr. Presidente, que durante os intervalos culpa as Juntas de Freguesia à boleia das novas competências, e sacode os restos para os meteorologistas porque “não avisaram”. Quando se usam frases feitas para combater desastres sérios aliviam-se os espertalhões. E os velhos têm muita paciência - não é assim, dr. Costa?
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