Quinta-feira, 21 de Julho de 2016

The five minute MBA para ministros das Finanças socialistas (4)

Mais uma sessão do nosso MBA rápido para jovens socialistas que pretendam vir a assumir a pasta da Finanças em governos socialistas, os homens novos do tempo novo, desenvolvido em parceria entre a Universidade de Harvard e a Universidade de Verão do Partido Socialista.

Hoje vou dar uma aula extra-curricular, subordinada a um dos temas mais interessantes que a governação socialista enfrenta sempre, e especialmente no momento actual:

  • Qual é a relação entre as políticas públicas e o investimento privado, e as consequentes criação de emprego e crescimento económico? Como é que os governos podem accionar as alavancas, como se diz nos MBA, mais eficazes para estimular os empreendedores com projectos de investimento a concretizá-los e, deste modo, contribuirem para o progresso de Portugal e dos portugueses?

A questão é tanto mais actual quanto o governo e a maioria que o apoia têm accionado todas as alavancas certas para promover o investimento, a criação de emprego e o crescimento económico:

  1. Reverteram o plano acordado entre o governo neoliberal anterior e a liderança neoliberal anterior do PS para continuar a reduzir gradualmente o IRC, mesmo num grau demasiado tímido para o aproximar dos níveis em vigor na Irlanda.
  2. Devolveram os rendimentos aos portugueses, pelo menos aos funcionários públicos com salários mais altos e aos pensionistas com pensões mais altas, estimulando o consumo que, por sua vez, pressionou o aumento da oferta.
  3. Aumentaram o salário mínimo, com a promessa declarada de o continuar a aumentar ainda mais ao longo da legislatura.
  4. Fizeram a reposição dos feriados, permitindo aos republicanos e patriotas celebrarem plenamente as datas simbólicas que eles representam, e aos católicos entregarem-se à oração sem distracções profissionais.
  5. Reduziram os horários de trabalho na função pública, pressionando o sector privado para responder com uma redução equivalente.
  6. Têm vindo a colaborar activamente com os sindicatos, cedendo em toda a linha nas negociações que conduzem com eles nos sectores público e empresarial do Estado, tentando ajudá-los a recuperar a importância que um dia tiveram e tem decaído sistematicamente com taxas de sindicalização miseráveis no sector privado.
  7. Têm combatido a precariedade no mercado de trabalho, nomeadamente regulando o trabalho temporário com a impressionante lei do "Combate às Formas Modernas de Trabalho Forçado" que altera legislação anterior demasiado permissiva do governo neoliberal do José Sócrates.
  8. Têm travado a expansão de pragas ambientais como o eucalipto para promover o investimento ambientalmente sustentável.
  9. Têm lançado programas com nomes fantásticos em locais fantásticos para facilitar o acesso dos empreendedores ao financiamento, porque toda a gente sabe que ideias, vontade e confiança para investir não lhes faltam e o único obstáculo à realização de investimentos é o acesso ao crédito.
  10. ...etc, etc, etc...

Todas estas políticas são as mais eficazes para promover o investimento, porque toda a gente sabe que trabalhadores mais bem pagos, com mais tempo para o lazer e o consumo, e confiando aos sindicatos a defesa dos seus interesses e dos serviços que prestam ao público conseguem atingir produtividades mais elevadas, sendo mesmo provável que, se recebessem salários equivalentes aos dos trabalhadores alemães e trabalhassem tão poucas horas e tão poucos dias como eles, os trabalhadores portugueses a cozer sapatos seriam tão produtivos como os alemães a fabricar motores de avião. E que, com um ambiente de investimento tão estimulante, os investidores nem se ralam de pagar mais impostos, tamanhos os lucros que terão à mão de semear se investirem.

Só mesmo os neoliberais mais insensíveis são capazes de ter a mesquinhez de duvidar da eficácia destas medidas, com o pretexto de aumentarem os custos de produção unitários e tornarem a nossa economia menos competitiva, destruindo emprego e desincentivando a criação de novos empregos, assim como de aumentarem os riscos de negócio decorrentes da imprevisibilidade da legislação que modela o ambiente de negócios no país, nomeadamente a fiscal ou laboral. Mas o neoliberalismo é apenas um caso de polícia, e não devemos perder o precioso tempo lectivo de uma universidade de elite socialista a discutir as invejas dos neoliberais.

Acresce um factor ainda mais importante e ainda mais estimulante do investimento. Apesar de o caminho para o socialismo estar inscrito há mais de 40 anos na nossa Constituição, temos sido um bocado calões, talvez por culpa do Mário Soares que meteu o socialismo na gaveta, talvez por ter feito as contas, ou alguém que as soubesse fazer as ter feito por ele, e chegado à conclusão que não havia dinheiro para o socialismo, e só desde Novembro último é que estamos finalmente no caminho para o socialismo onde países como, por exemplo, a Venezuela, já chegaram.

Ora, e finalmente chegamos ao problema que pretendemos resolver nesta sessão, com esperança de acessoriamente contribuir para tranquilizar o meu companheiro João Pereira da Silva, a grande questão que temos pela frente é.

E a resposta não podia deixar de ser:

  • Por causa do Brexit...

É claro que todos os jovens socialistas deram a resposta certa e estão dispensados de exame. Até à próxima.

publicado por Manuel Vilarinho Pires às 21:19
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