Financiamento
Não sei de onde vem a imensa fortuna que a empresária Isabel dos Santos investe um pouco por todo o lado, nomeadamente em Portugal, onde tem investidos alguns milhares de milhões de euros, parte deles a título pessoal, e parte em associação com entidades angolanas como a Sonangol.
Desde a independência, Angola foi transformada pelos dirigentes do MPLA numa plutocracia cleptocrata, ou vice versa, facto que aliás confirma a tendência que se verifica normalmente nos regimes socialistas, de modo algo discreto enquanto mantêm as economias fechadas e mais evidente quando as abrem, e a acumulação de fortuna que ela pessoalmente conseguiu pode não ter sido alheia a esta circunstância.
É muito plausível que, no mínimo, tenha construído a fortuna em monopólios que lhe foram concessionados por ser filha do presidente e, no máximo, a tenha construído em infernos inimagináveis. Eu não sou polícia para investigar se neste caso o que é plausível é mesmo verdadeiro, total ou parcialmente, pelo que honestamente não posso mais do que ter alguma dúvida sobre a origem dos fundos que ela investe. Onde não foi certamente foi na venda de ovos em que, ainda criança, ela se iniciou no mundo dos negócios.
Isto tudo, e muito mais que me escuso de enumerar aqui, para dizer que não sou capaz de garantir nem a transparência nem a ética na origem dos fundos com que ela se financiou para investir em Portugal.
Investimento
Mas conheço, tanto quanto um espectador com um mínimo de atenção consegue conhecer, os investimentos que ela tem feito em Portugal.
Tem investido quase sempre em empresas boas, bem geridas e rentáveis, que actuam em mercados concorrenciais e, portanto, nem extraem da economia rendas de monopólio para transferir para os accionistas nem estão dependentes de favores ou desfavores dos poderes políticos mais intervencionistas, foi até vítima de uma iniciativa legislativa do governo António Costa eticamente duvidosa por ser especificamente dirigida a impossibilitá-la de impedir legalmente uma operação de que ela discordava de outro accionista do BPI, não é conhecida por interferir na gestão das empresas onde investe nem por utilizá-las para albergar amigos, não lhe é conhecido nenhum saque à tesouraria das empresas que domina para financiar aventuras empresariais, nunca arruinou nenhuma empresa, não lhe são conhecidos negócios obscuros.
Ou seja, fazendo os capitalistas com o seu dinheiro aquilo que lhes dá na gana dentro do que lhes é possível fazer, a capitalista Isabel dos Santos faz exactamente aquilo que fez do capitalismo o sistema económico mais decente e próspero da história da humanidade, ou seja, dirige os fundos de que dispõe para investir em projectos competitivos e entrega a sua gestão a gestores profissionais competentes e independentes dos accionistas com a missão de rentabilizarem o investimento, resultando tudo no incremento da competitividade e no enriquecimento desses projectos, da economia e da sociedade, e também dela como investidora.
Em Portugal a empresária Isabel dos Santos é um capitalista exemplar. Fosse a generalidade dos capitalistas portugueses como ela, e a economia portuguesa seria bem mais próspera, e os portugueses de uma maneira geral bem menos empobrecidos por não serem regularmente chamados a salvar com o dinheiro que têm, em impostos, e que não têm, em incremento da dívida pública, empresas e bancos que os capitalistas portugueses, frequentemente com o apoio e a ajuda de governantes, arruinaram.
Para nosso bem, oxalá a purga que está a ser feita pelo governo actual angolano aos beneficiários mais evidentes da plutocracia cleptocrata, ou vice versa, do governo anterior, a começar pelos filhos do anterior presidente, seja com o objectivo de exterminar a plutocracia cleptocrata, seja com o de substituir os plutocratas cleptocratas por outros, não afaste a empresária Isabel dos Santos de Portugal. Se isso acontecer, é muito provável que quem lhe suceda faça pior.
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