Não tenho a pretensão de entender o que vai na cabeça de um comunista: por que razão acreditam que amputar do catálogo das liberdades a económica, com o cortejo de violências que são necessárias para reduzir e manter o cidadão na condição de empregado do Estado, desafia as minhas - reconheço - limitadas capacidades. Daí que compreenda tão bem o discurso do Sr. Arménio como o de um monge hare krishna.
Mas respeito a liberdade deles serem o que são e pensarem o que pensam: a liberdade é necessária para os que são diferentes de nós, não para os que são, no essencial, iguais a nós.
A minha tolerância, porém, acaba onde começa a estupidez e a desonestidade. E as declarações deste indivíduo, se não forem de má-fé, são simplesmente burras.
Parece que há algum patronato que adopta um comportamento culposo, porque "paga ao fisco (porque é crime fiscal) mas não paga aos trabalhadores, apesar de também ser considerado crime”.
Proença, Proença, mete nessa cabeça cheia de caspa por fora, e de lixo por dentro: nenhum patrão (salvo a quota de patifes que existe em todas as actividades) faz falir deliberadamente a sua empresa, se tiver meios de a salvar; o empresário que deixa atrasar os salários fá-lo quase sempre por não ter escolha, salvo encerrar; quando não há recursos para ocorrer a tudo, é não apenas humano mas razoável que se satisfaça primeiro quem pode causar maior dano; o privilégio do Estado só deveria ter cobertura de sanção criminal nos casos em que houvesse recursos disponíveis subtraídos deliberadamente àquele sócio ausente, predatório e lambão; muitas vezes a falta de recursos deve-se a falta de pagamento tempestivo do próprio Estado, à obrigação de entregar impostos que não foram cobrados, a dívidas de clientes ou ainda às dificuldades que tribunais e agências do Estado criam.
Queres fazer trabalho útil, Proença? Olha, compra por um Euro uma dessas empresas mal geridas que têm clientes, encomendas e viabilidade, mas que estão às portas da falência; recapitaliza-a (recursos não faltam - só o que os sindicatos cobram de quotas sem que sequer paguem aos associados os dias de greve já deve representar um apreciável pecúlio) na medida do necessário; contrata gestores com formação, coisa de que, diz-se, a maioria dos empresários carece dolorosamente; e dá o exemplo. Se quiseres ser realmente ambicioso, faz uma campanha junto dos trabalhadores não sindicalizados, para angariar novos sócios - meu Deus, que desparrame de dinheiro desaproveitado que está à espera de uma causa justa.
Ah, e no intervalo lava a cabeça - por dentro e por fora.
O sindicalista da literatura e do cinema é ou um comunista devorado pela ambição de ajudar a fazer um mundo perfeito, ou uma pessoa generosa que no percurso da vida laboral tropeçou na injustiça, no abuso e na ganância; ou ainda, se o romance e o filme forem americanos, um ambicioso com ligações à Mafia.
O Engº Proença é um sindicalista mas não é nenhuma destas coisas: é uma peça útil no engenhoso mecanismo da concertação social. Com ele, a "representação" institucional dos trabalhadores não fica em exclusivo na dependência do PCP.
Parece que o Governo tem o incompreensível propósito de atrair investimento. E, fiado no princípio de que não se atraem moscas com vinagre, propõe-se reduzir o IRC a 10%, "sendo o imposto mais baixo durante dez anos para novos investimentos acima de um determinado valor, que deverá situar-se entre os três e os cinco milhões de euros."
A medida, a mim, embaraça-me: porque não vejo por que razão um investimento de cinco milhões é melhor do que cinco de um milhão cada; porque diabo três ou cinco estariam bem mas já não dois; e ainda porque qualquer medida que fira a igualdade de tratamento fiscal das empresas abre a porta a uma quantidade de distorções.
Mas as empresas não são pessoas. E quando Proença diz: "Toda a gente sabe que em Portugal os impostos têm incidido, sobretudo, sobre trabalhadores e pensionistas. No Orçamento do Estado para 2013 mais de 70% da carga fiscal incide no IRS. Agora, baixar o nível de IRC em Portugal é completamente absurdo, é completamente miserável se forem avante com essa ambição", devia saber que a única comparação possível e legítima é entre o que pagam a título de impostos as pessoas que dirigem as empresas ou delas são sócios ou accionistas, e os trabalhadores.
Comparar impostos de pessoas colectivas com impostos de pessoas singulares é idiota: se o IRC fosse zero e o IRS dos dirigentes e accionistas 100%, estes estariam na miséria, quando o que Proença quer dizer com a sua indignação de pacotilha é que a baixa de impostos das empresas beneficia principalmente os patrões.
E, já agora, Proença: as coisas ou são absurdas e miseráveis ou não são. Não tem isso de "completamente" absurdo ou "completamente" miserável. Faz lá o teu número de sindicalista, pontapeando a lógica e o senso. Mas deixa em paz a Gramática. Pá.
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