Aos oito deputados da JSD presentes no grupo parlamentar do PSD pareceu relevante perguntar quanto nos custam os sindicatos "do sector da educação". Para efeitos práticos, queriam tornar pública a sua preocupação com os custos dos sindicatos dos professores. E conseguiram algumas proezas paralelas. A mais previsível foi provocar a pergunta de sinal contrário: "Quanto custa a JSD?". Mas as consequências da "intervenção" são maiores do que isto e levantam outras perguntas.
Onde é que a JSD quer chegar? Estes deputados sabem que os sindicalistas têm os ordenados pagos pela entidade patronal, e é nesta medida que o Estado contribui para as despesas dos sindicatos. Como também são as empresas privadas que pagam os ordenados aos seus sindicalistas, e consta que os da Auto-Europa não ganham nada mal. O resto é pago pelas cotas dos trabalhadores sindicalizados, e neste assunto a Assembleia da República não pode (nem deve) meter o nariz.
Talvez a JSD esteja convencida que os sindicatos são dispensáveis, o que é legítimo. Mas até hoje não se conhece à JSD uma posição sobre o assunto. Se assim for, devem os jovens deputados apresentar uma proposta política forte, coerente, e bem fundamentada. Talvez queiram desgastar, aos olhos da opinião pública, a imagem dos sindicatos. Argumentar, como parece ser a sua intenção, que os sindicatos são prejudiciais porque significam um custo demasiado elevado nas contas do país, seria politicamente pobre e filosoficamente patético. Fundamentar estas contas no peso que têm no Orçamento do Estado os ordenados dos sindicalistas é uma estratégia tosca, desatenta, e pueril.
Desconheço quais são os custos que a JSD considera "razoáveis". A actuação pública dos petizes leva-me a desconfiar que esses custos seriam zero. E ainda assim a existência de sindicatos permaneceria uma concessão incómoda àquilo que parecem entender como caprichos da democracia, uma vez que nunca lhes ouvi apontar nenhuma vantagem. Não sei com quem é que a JSD pretende que os governos portugueses passem a negociar as medidas que afectam o trabalho e a vida dos assalariados.
O papel dos sindicatos tem-se traduzido em custos incalculáveis para o país. Ninguém sabe dizer quanto perdemos com a greve dos estivadores. As sucessivas greves dos professores, uma espécie de maldição sazonal que cai sobre os portugueses várias vezes ao ano (com perspectivas de se intensificar), representam custos económicos e sociais que estão acima de todos os luxos.
Em 1969 o Reino Unido vivia um pesadelo nas mãos dos sindicatos e Barbara Castle, várias vezes ministra e um dos mais destacados membros do Partido Trabalhista, concebeu uma proposta chamada "In Place of Strife" que previa alterações profundas à lei da greve. Não conseguiu, enquanto esteve no governo, que o seu projecto fosse executado. Foi preciso esperar 10 anos, até que Margaret Thatcher foi eleita e aplicou quase todas as alterações contidas nesse documento. Entre outras regras, a partir daí as greves tinham obrigatoriamente de ser decididas, através de voto secreto, por todos os empregados da empresa. Como é evidente, esta alteração tirou poder aos sindicalistas e reforçou o poder dos trabalhadores.
Em Portugal, os sindicatos representam as corporações (com os danos à vista). E estes deputadinhos resolvem contabilizar os ordenados dos dirigentes sindicais. Fizessem eles o que lhes compete, que é conhecer a sociedade portuguesa e representar efectivamente os interesses dos trabalhadores (que são a esmagadora maioria da população), e cada euro gasto em Nogueiras e Avoilas seria abençoado.
Espera-se da Assembleia da República que represente o povo português. Compete-lhe contribuir para o alívio das nossas dores. Se é para reflectir a nossa fraqueza, a nossa ignorância, e a nossa pesporrência, proponho para a próxima legislatura que os lugares de deputado reservados à JSD sejam sorteados entre os cidadãos que escrevem nas caixas de comentários da internet. Calculo que "os custos" em moeda sejam equivalentes. E o espectáculo de cabaré ganha outro viço se representado por degenerados livres.
Uma das reformas mais saudáveis e urgentes que podiam fazer-se em Portugal era a extinção de todas as juventudes partidárias, sem excepção. A tendência não é essa.
Pelo contrário, "os jovens" são referidos com desvelo. Como se em comum tivessem mais do que a inclinação histórica, biológica, e proverbial para "pensarem" asneiras definitivas. E dizerem-nas, com um arzinho tão néscio quanto triunfante. Paralelamente, ninguém ensina "os jovens" a duvidar, a discutir, a argumentar, a formar opiniões próprias, e a avaliar da pertinência do que lhes enfiam gelatinosamente no cérebro.
Vi miúdos com 10 anos ensaiados para recitar odes ao Império. Certinhos, engraçados, com os olhos piscos e a precisão de um realejo. Ouvi os aplausos no final do espectáculo. E o orgulho da plateia de pais, que não percebeu uma única palavra nem deu conta que os seus filhos também não. Vejo as notas luminosas desses miúdos em impressos fechados (suponho que o Quadro de Honra tenha sido abolido por motivos de "exclusão social").
Os "bons alunos" progridem neste modelo arrepiante, programados para "aprender" o que não têm idade para perceber. Espíritos subidos do Ministério da Educação decidem quem são os "grandes nomes da língua portuguesa", e à força de martelar as crianças com textos impenetráveis esperam desenvolver nelas o "gosto pela leitura". Nos dias de festa dá-se-lhes à manivela e as escolas sobem no ranking.
O Plano Nacional de Leitura existe para pôr ordem nas letras. Assente nos "valores fundamentais" da "liberdade", da "lusofonia", e da "portugalidade", estabelece uma lista de obras "literárias", ocupado em aprovar oficialmente os "grandes nomes" cuja "irreverência" seria censurada nos tempos da Ditadura, quando as leituras dos portugueses eram vigiadas. Isso agora acabou, porque os seus "responsáveis" discutem previamente (e em total liberdade, note-se) quais são os livros "adequados" à "formação" das crianças, o que deve ou não ser "incentivado", quais são as obras "de referência", e como é que os "educadores" devem "ajudar" os jovens a "desenvolver" o gosto pela leitura, fornecendo-lhes a indispensável "orientação".
Desconfio que deixar as crianças ler o que quiserem, alternando lixo com uma ou outra coisa bem escrita; permitir-lhes que escolham textos sobre os assuntos que lhes interessam; esperar que elas percebam sozinhas quem escreve melhor e quem lhes dá mais prazer - seria visto como uma leviandade sem nome. No limite, seria forçar os "educadores" portugueses a enfrentar o risco de que ninguém lesse as pasteladas acéfalas que eles próprios escrevem.
Por isso, no entender (ou interesse?) dos "responsáveis", e em matéria de pensamento, a liberdade é "fundamental" desde que devidamente "orientada". Compreende-se. De outra maneira, o seu papel passaria de deletério a nulo. E teriam de pegar neles e arranjar uma profissão.
Destes "estabelecimentos de ensino", os mais inclinados ao "pensamento" seguem para as juventudes partidárias onde se demoram a aprimorar a sua "formação" (os mais frágeis saem determinados a nunca mais pegar num único livro). Daí, com algum jeito para a intriga, para a bajulação, e para o domínio das banalidades orais, chegam à esfera pública e cometem entrevistas. As "questões fracturantes" são estridentes, mas não passam da superfície do sólido onde as suas "opiniões" grotescas se tornam mais visíveis. E o carácter (caso venham a lembrar-se dele) está irremediavelmente perdido no passado, diluído no peso das "responsabilidades" e no empenho de algum "orientador".
Blogs
Adeptos da Concorrência Imperfeita
Com jornalismo assim, quem precisa de censura?
DêDêTê (Desconfia dele também...)
Momentos económicos... e não só
O MacGuffin (aka Contra a Corrente)
Os Três Dês do Acordo Ortográfico
Leituras
Ambrose Evans-Pritchard (The Telegraph)
Rodrigo Gurgel (até 4 Fev. 2015)
Jornais