É sempre esclarecedor ver os socialistas da nova geração explicarem que as liberdades, aqui a de escolha, por aí a de imprensa (ou aí, ou aí, ou aí, ou aí, ou aí, ou aí) ou a de manifestação (mas não aqui, e muito menos aqui), alguns vão ensaiando a de opinião, e na cabeça deles só Deus sabe quantas mais, são falácias incompatíveis com a ideia de sociedade que eles têm para nós.
Mas não é nenhuma novidade. Desde o tempo das amplas liberdades que já se sabia que as outras liberdades são incompatíveis com a ideia de sociedade que eles trazem na cabeça.
Novidade é serem socialistas do Partido Socialista a virem para a rua fazer a denúncia das liberdades burguesas que, antes, ficava por conta dos comunistas e da esquerda radical, barbuda ou engraçadinha, que agora se auto-intitula social-democrata.
"Se querem colégios particulares, paguem-nos" é uma frase tão elitista e sociopata como "Se querem bifes, paguem-nos".
Curiosamente, anda hoje em dia na boca de muitos que, em plena crise social causada pela bancarrota do governo socialista anterior, se exaltaram e trataram como genocida uma anti-Maria Antonieta que, à época, sugeriu "se não têm dinheiro para comer bifes, comam frango". Percebe-se porquê. Para quem aspira a uma hecatombe social que acenda o rastilho de uma revolução, uma frase como "se não têm pão, comam brioche" faz maravilhas a incitar o ódio ao estabelecimento, mas uma alternativa à fome acessível a quem não tem dinheiro para comer bifes aborta a sonhada revolução antes de ela nascer. Sem gente a morrer de fome, não há pachorra para revoluções.
A frase podia ter uma formulação infeliz, mas uma fundamentação económica. O dinheiro dos contribuintes é finito, se bem que, com os socialistas a gerir, bastante elástico, e se saísse mais caro ao estado social pagar o ensino em colégios particulares do que em estabelecimentos oficiais, seria um desperdício de recursos preciosos para acudir a outras necessidades, nem que fosse a de reduzir os impostos para estimular a actividade económica. Mas o assunto já foi alvo de múltiplos estudos, que estão longe de ser conclusivos. Não está provado que pagar a um colégio para abrir uma turma seja mais caro que abrir essa turma numa escola oficial, mesmo que seja a poucos metros do colégio, nem o seu contrário. Se essa possibilidade é negada aos pais dos alunos não é por motivos económicos, ou economicistas, como gostam de dizer os zelotas do estado social.
O que parece ir-se provando é que, quando têm possibilidade de escolha apesar de não terem dinheiro para a sustentar pessoalmente, quando o estado social lhes oferece essa possibilidade, muitos pais preferem pôr os filhos a estudar em colégios particulares a pô-los na escola oficial da área de residência.
Mas se os beneficiários do estado social preferem, e não sai fundamentalmente mais caro aos contribuintes, porquê a guerra aberta, declarada por todos, desde a esquerda radical ao socialismo chamado "democrático" instalado no governo, aos contratos de associação? Por motivos ideológicos, como está na moda explicar agora.
Uma das hipóteses para a explicar é o ódio genético do socialismo à liberdade de escolha, ou à liberdade genericamente, e a confusão entre a construção de um estado social, que oferece a todos os cidadãos, independentemente da sua capacidade económica, um conjunto essencial de direitos que, de outro modo, só seriam acessíveis aos que têm capacidade económica, e a construção de um estado socialista, em que todos os aspectos da vida devem ser determinados pelo estado e pelos burocratas que o controlam, e que qualquer liberdade de escolha ou iniciativa privada pode abalar.
Outra, é a preservação da estratificação social existente, reservando aos que têm dinheiro a escolha das melhores escolas negada aos que não têm, de modo a que os filhos de família que frequentam os colégios caros que ajudam a fabricar médias não se vejam ultrapassados no acesso a Medicina por filhos do povo que, além de serem mais inteligentes e diligentes que eles, também tenham sido educados em escolas que os preparam para os exames. Esta é detectável nos defensores do estado social exclusivamente público que, tendo capacidade económica para o fazer, recorrem aos colégios privados para os seus filhos.
Outra ainda, com que não vale a pena perder muito tempo, é um reflexo condicionado derivado da estupidez de presumir que colégios privados são privilégio de ricos, pelo que os contratos de associação servem apenas para financiar aos ricos a educação dos seus filhos que eles próprios podiam pagar.
Frases como "Se querem colégios particulares, paguem-nos" revelam mais da sociopatia da segunda hipótese ou da estupidez da terceira que do fundamentalismo ideológico da primeira. Mas todas são inimigas da liberdade, do progresso e "das pessoas".
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