Depois de terem sido abandonados à sua sorte durante toda a legislatura por um governo que se dedicou a demoli-lo trocando o serviço aos utentes pela redução dos horários dos funcionários, a ministra da Saúde, que eu tenho apelidado, talvez não lhe conseguindo por defeito fazer justiça, de tonta fala-barato da extrema-esquerda, anunciou que até ao fim do ano de 2019, por coincidência um ano em que há duas eleições, todos os doentes à espera de consulta ou cirurgia há mais de um ano vão ser atendidos.
O que significa que não garante atendimento até ao fim de Dezembro aos que estão à espera há quase um ano, e que então estarão à espera há 21 meses.
Em Portugal morrem em média 7 doentes por dia à espera de consulta ou cirurgia. Quantos é que ela está a condenar à morte? É só fazer as contas. Mas passa dos 4 mil. Isto em ano de várias eleições. Agora imaginem em 2020, 2021 e 2022...
A ministra da Saúde Marta Temido parece uma tonta desbocada de extrema-esquerda que não consegue esconder as inclinações ideológicas num mundo em que a esquerda só consegue ganhar eleições, ou perdê-las por suficientemente pouco para conseguir cozinhar maiorias parlamentares que sustentam governos, escondendo-as. E responder às questões dos jornalistas sobre as consequências para os utentes da rescisão das convenções com a ADSE dos hospitais da CUF e da Luz que os utentes não ficam sem cuidados de saúde porque têm à sua disposição os estabelecimentos do SNS só confirma esta impressão.
Mas é manhosa e mafiosa.
Lembram-se da burla que o governo Costa fez para esconder o agravamento dos tempos de espera por consultas de especialidade e cirurgias, em cujas listas morrem mais de dois mil doentes por ano, retirando administrativamente da lista os doentes mais antigos através do expediente de inventar que tinham faltado a convocatórias que nunca lhes foram enviadas e recolocando-os depois no fim da fila com o tempo de espera a voltar a zeros, e deste modo reduzindo o tempo de espera médio das estatísticas oficiais?
Fazem alguma ideia de quantos desses doentes deslocados do início para o fim da lista e que, por esse motivo, viram prolongar a sua espera pela primeira consulta de especialidade necessária para dar início ao tratamento ou à cirurgia morreram durante esse prolongamento? Eu não sei, mas sou capaz de admitir que alguns dos 7 doentes que em média morrem por dia à espera de cirurgia possam ser destes.
Sabem onde foi montada e de onde foi coordenada a burla nas listas de espera? Na Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS).
Sabem quem dirigia a ACSS ao tempo da burla? O nome está no texto, era a actual ministra da Saúde.
Se não foi promovida a ministra como prémio pela burla que montou, tem pelo menos o perfil ideal para ser membro de um governo António Costa.
O programa socialista de redução da lista de espera para cirurgias de ortopedia é genial: eliminam-se os doentes mais antigos da lista de espera e ela reduz-se automaticamente. E se eles se queixarem que ainda não foram operados mas já não estão na lista de espera? Metem-se lá de novo.
Numa perspectiva míope e de curto prazo não se consegue perceber como é que isto resolve o problema, e fica-se mesmo com a ideia que os doentes até saem prejudicados por, depois de esperarem hipoteticamente dois anos, serem repostos no fim da lista e ficarem com hipoteticamente mais dois anos para esperar. Esta perspectiva é evidentemente criticável por, como se costuma dizer, ao fixar-se na árvore, perder a perspectiva da floresta, ao fixar-se egoisticamente nos problemas específicos de uns poucos de doentes, pouco mas de mil no caso que suscitou esta discussão, esquecer a medida do bem comum da generalidade dos doentes.
Quem consegue passar além dela corre ainda o risco de cair numa segunda armadilha. Se os doentes saem da cabeça da lista de espera mas são de seguida recolocados na cauda, a lista de espera não diminui, apenas se recompõe, ou se reordena. Mais um erro. Quem olha para os fenómenos quantificáveis sem ter o cuidado de os analisar à luz das estatísticas que realmente interessam para os descrever corre o risco de extrair conclusões precipitadas e, pior do que isso, enganosas. Ora o que é de facto mais importante para os doentes à espera de cirurgia, para as pessoas? O tamanho da lista de espera, ou o tempo que têm que esperar? O tamanho é importante para os burocratas que operacionalizam estes programas, é um problema da tecnocracia economicista. O que interessa às pessoas é mesmo o tempo que esperam pela sua cirurgia, e a estatística adequada para o medir é o tempo médio de espera.
E chegamos finalmente à chave do enigma. Quando se retira da lista de espera um doente que já esperava há dois anos e se reintroduz o doente na lista, o seu tempo de espera é reposto a zero. Quando se faz o mesmo a mil e duzentos doentes, o tempo médio de espera de todos os doentes que fazem parte da lista, a tal estatística que melhor retrata o que é importante para eles, reduz-se significativamente, dependendo do tamanho total da lista, mas reduz-se mesmo, qualquer que seja o seu tamanho.
O lendário génio socialista consegue, pois, e finalmente, reduzir o tempo médio das listas de espera para cirurgia ortopédica mas, ainda mais extraordinário, sem colocar em causa as metas orçamentais e os nossos compromissos com as instituições internacionais, porque o faz sem dispêndio de recursos, e muito menos sem cometer a perversidade de financiar hospitais privados para fazer aquilo que os públicos não conseguem fazer, que era o que os neoliberais que os precederam queriam de facto, dar dinheiro a ganhar ao grande capital: uns apaganços nos ficheiros informáticos do ministério bastam para resolver o problema.
E assim se vê como o socialismo consegue colocar as pessoas acima de tudo o resto e resolver os seus problemas bastando-lhe para isso abrir as perspectivas. Um dia destes, levado pelo entusiasmo, sou bem capaz de avançar aqui com uma soluçao socialista para o problema da dívida insustentável. Só deixo uma pista: é com a ajuda da tecla Delete. E depois, seja o que Deus quiser...
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