Este é um post à Pedro Arroja, que fez recentemente o livro "F: Portugal é uma figura de mulher", mas ao contrário, não sobre Portugal, mas sobre a Itália, o berço da cristandade, onde Pedro criou e desenvolveu a Igreja, e da elevação (pela Igreja) da mulher ideal ao altar de Maria.
Vivo há três anos em Itália e julgo que agora começo a entender a superficialidade de uma cultura que na aparência é muito semelhante à nossa, mas que no fundo é muito diferente, apesar de ter aspectos comuns.
Este é o país onde as patentes são geradas, a uma velocidade impressionante, e onde elas são muito símiles a outras desenvolvidas noutros países. À genialidade reconhecida italiana, adiciona-se a enorme facilidade com que se replica e copia o que é feito lá fora. Como a economia é muito fechada, os italianos preferem, por princípio comprar produção própria, e as novidades externas são lançadas internamente, mais tarde, muitas vezes por italianos "inspirados" no trabalho original de outros.
Este é o país que tem a pior penetração de banda larga e acesso à internet da europa comunitária. A rede de cobre impera na maior parte do território, o gestor está falido e o investimento de fibra ao nível nacional não está sequer previsto fora do papel. A reacção ao desenvolvimento é bloqueada em primeira mão pelo próprio governo e cliques partidárias pois o acesso livre à informação contraria o controlo apertado que os media impõem ao que é oficialmente comunicado.
Este é o país onde tudo é dobrado na televisão, onde se fala menos línguas estrangeiras na europa comunitária e onde a cultura tradicional é mais mantida de modo fechado.
Este é o país machista onde as mulheres mandam nos homens. É o país onde, depois de milénios de subjugação da mulher ao homem (relembrar a pater potestas, romana) a mulher encontrou um papel determinante de refúgio, tornando-se a "mamma", o colo seguro, onde os homens, que vivem num inferno social extremamente instável, encontram na figura materna a única segurança sem condições. É o país da Europa em que os filhos saem de casa mais tarde e profundamente dependentes.
É o país de um enorme choque geracional e civilizacional. Onde os papeis tradicionais de comportamento da família já não fazem sentido mas ainda não foram encontrados outros. Não há mãe que em perfeito juízo pense ser possível criar uma filha para o papel tradicional feminino (gerando uma potencial dependente para toda a vida) e não há pai que pense poder criar um filho para o papel macho conservador, pois já não haverá mulher que o ature, dependente, autoritário e todo-poderoso.
É o país onde o primeiro-ministro nomeado vai em primeiro lugar pedir a bênção e apoio político ao Papa para evitar, que nas igrejas cheias, algo de contrariador possa ser dito pelos sempre presentes e importantes padres.
É o país de Maquiavel, de muitos príncipes e de muitos mais servos, onde o poder político resulta de enormes manipulações sociais e políticas .
É o país que depois do império romano, subjugador, deu ao mundo as heranças enormes da igreja católica e da mafia. O país da união conseguida por Garibaldi com enorme derramamento de sangue e dor para o sul do país, onde agora os do norte, netos dos conquistadores, reclamam a separação. Onde os do sul, os "briganti" em reacção ao poder do norte, criaram o estado paralelo que depois se expandiu na enorme emigração italiana, com nomes como a "mafia", a "camorra", o "sacro cuore".
É o país que tem a mais alta taxação da Europa. Onde as taxas, suportadas por uma burocracia imensa, alimentam uma classe política das mais bem pagas no mundo.
É o país controlado por homens subjugados a Maria. Um país matriarcal onde qualquer decisão importante de qualquer homem é feita em conselho familiar presidido pela mulher predominante.
É o país da religião. Da maior mentira alguma vez elaborada no mundo ocidental, sobre a qual se construiu um pretenso castelo de cartas de "verdades" (perdoem-me os amigos católicos dogmáticos).
É o país onde as mulheres, durante gerações, enlouqueceram de sofrimento. De dor, após gerações de controlo masculino por parte de primogénitos obcecados pelo poder, secundados por segundos que partiram para a solução de recurso: o trabalho eclesiástico. O país onde as mães não têm como ver futuro para os filhos, que ou singram fruto de relações familiares favoráveis, ou então minguam toda a vida não interessando o mérito que tenham, ou ainda emigram.
É o país onde a justiça não funciona e é instrumento. Onde Berlusconi ficou rico depois de ser primeiro-ministro (apesar do mito de que já o era) e onde o seu principal adversário (De Benedetti) é o expoente sombra do principal partido contrário a Berlusconi (o PD). Quando ouvirem dizer que Berlusconi é perseguido (e apesar de muitos disparates que ele tenha feito) pode ser verdade.
É o país com uma das maiores dívidas públicas do mundo que continua há 4 anos sem fazer qualquer austeridade, afundando-se sempre mais, na esperança de uma retoma que ainda não aconteceu. Onde as contas públicas no ISTAT (nosso INE) são publicadas com 3 ou mais anos de atraso.
Sim, tal como Portugal, a Itália também é uma figura de mulher, guardiã da tradição, mas louca e sem esperança. A loucura dos filhos, não será, também, à medida da das suas mães? Porquê? Porque as mulheres são o receptáculo do sofrimento da humanidade: a única que sofre a vida do filho como o filho, ou mais, é a mãe. O sofrimento deixa marcas, por gerações.
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