Se eu tivesse um neto preto, não hesitaria em tratá-lo por pretinho - e bardamerda para a opinião de terceiros.
E se tivesse uma neta com feições asiáticas, também não hesitaria em dizer: Anda cá, minha chinoca! - se estivesse pr'aí virado.
Estou absolutamente certo de que gostaria muito deles, particularmente da chinoca ou de uma pretinha, porque prefiro meninas: não tive filhos machos, talvez seja por isso. E nem vale a pena dizer que não seriam objecto de menos atenção ou cuidado - talvez a palavra certa seja amor, mas não aprecio pieguices - por não terem as minhas feições desmaiadas de branquela ou os olhos a requererem sutiã.
Gostaria que os meus netos soubessem que a diferença não é um defeito; que a igualdade não consiste em tratar igualmente o que é desigual; que as mesmas palavras significam coisas diferentes na boca de pessoas diferentes; e que o vasto vento de palermice originado nos Estados Unidos, e que se designa por politicamente correcto, é uma moda de pensamento, que passará como passaram outras.
É por isso que esta polémica dos Pele-Vermelhas, os quais irão possivelmente mudar de nome, ou adoptarem como símbolo uma beterraba, é intensamente ridícula.
Mais ridícula ainda porque Obama julgou útil dizer o que lhe vai na alma. E o que lhe vai na alma é a patetice bem-pensante do costume. Não por ser mulato; por ser imbecil.
Clicar para ampliar. Daqui.
Este cartoon nem parece do - politicamente correcto à esquerda perfeita posicionado - Economist. Se o publicam é porque o sonho Obama chegou mesmo ao fim. Se para Luther King o sonho era tudo, para Obama que surgiu com "first you see the way, then you walk it" todos os caminhos vistos por este visionário levaram, exactamente e apenas, à mesma posição: a de... partida. Um presidente americano que deixa para a história a mais profunda marca demagógica. Nada ofereceu, além de uma bonita e vazia retórica.
E o maior risco da demonstração de força é subestimar a do adversário.
Hassad não é Saddam. Penso que Obama, se Bush cometeu um erro ao invadir o Iraque, se prepara para cometer um muito maior. O ninho de vespas que lhe explodirá nas mãos com um eventual ataque à Síria é muito mais complicado que o do Iraque. O Iraque não tinha os apoios que a Síria tem. Obama não tem a força económica que Bush tinha e o mundo está em pior estado que em 2003. Os estrategas do Pentágono e da Casa Branca devem estar agora em actividade frenética para compreender as consequências de uma guerra que só se forem ingénuos pensarão que se resolve com um "stand by" ameaçador de porta-aviões apontados a Damasco. Terão de mostrar as cartas e atacar pois o "bluff" não funcionará com Hassad e aliados. Depois do ataque não há retorno e Obama terá de ir até ao fim se quiser salvar a cara. As consequências serão previsíveis mesmo para os "think tank" de guerra americanos? Não me parece. E o "day after" Hassad, quem o pode garantir? Ninguém. Que loucura.
Para o primeiro post nesta ilustre casa, tinha de escolher matéria pacifica. Vai daí, e porque ainda ontem abri mão de duas horas e de mais de um conto e duzentos, falarei sobre o filme da polémica: Zero Dark Thirty.
Kathryn Bigelow fez um filme muito competente, onde nos conta tudo, desde o high tech, até às simulações de afogamento. Conta-nos todos os passos que foram dados para chegar a Ben Laden. Todos os passos que tomaram conta da vida da mulher que o perseguiu e o encontrou.
Perante isto, perante a história e os factos que a compõem, apareceu Naomi Wolf, um misto de Carla Alves e Maria Teresa Horta com uma cara laroca, ícone liberal das élites democráticas, que vem a público desfazer Bigelow.
Em modo epistolar, lança-se como um lobo à carótida de Bigelow. Chama-lhe a Riefenstahl da administração Bush e dos poderes ocultos. Acusa-a de serva da tortura e dos agentes que a praticaram. Julga-a sumariamente por colaboracionismo com a CIA, os militares, os poderes ocultos e o pior de tudo: os Republicanos.
Não escondo a minha preferência pelos Democratas, nem o meu entusiasmo por Obama, malgré tout. No filme, as mudanças políticas são bem retratadas, são encaradas tal qual são: o tempo traz a sucessão de diferentes tempos políticos, e o de Obama é necessariamente diferente do de Bush, o mundo é diferente em Obama. Bigelow constata este facto, mostra-nos uma administração escaldada pela "armas de destruição massiva no Iraque", mais prudente, mais insegura na aproximação, mais observada por um mundo que já guardou na gaveta da história o horror do 9/11. Obama e os seus homens são aqui muito bem tratados. Não percebo o problema de Wolf.
A tortura domina o inicio do filme, do processo. Deu resultado. A crueza com que nos é mostrada é semelhante à Paixão de Gibson; não é um filme para os mais sensíveis. A componente multifacetada da relação inquiridor-torturado é muito bem explorada e em momento algum somos empurrados para a simples dialética do bom policia e do bandido.
Entre outras coisas, se há uma particularmente bem sucedida no filme, é despertar-nos o dilema moral e ético da tortura. Não é a situação fácil do inocente torturado, mas a dificuldade do confronto intimo de cada um de nós com a eficácia da tortura.
Wolf não quis ver nada disto, aliás, não quis ver nada; quis pendurar-se num enorme sucesso e ser falada às suas custas.
Mas Wolf tem virtude no que faz, lembra-nos que não é só neste rectangulozinho nosso que há gente assim, lembra-nos que na vida para cada Sarah Palin há uma Naomi Wolf.
"As most of you know our company, Westgate Resorts, has continued to succeed in spite of a very dismal economy. There is no question that the economy has changed for the worse and we have not seen any improvement over the past four years. In spite of all of the challenges we have faced, the good news is this: The economy doesn’t currently pose a threat to your job. What does threaten your job however, is another 4 years of the same Presidential administration. Of course, as your employer, I can’t tell you whom to vote for, and I certainly wouldn’t interfere with your right to vote for whomever you choose. In fact, I encourage you to vote for whomever you think will serve your interests the best."
Este tipo acha que mais quatro anos de Obama não darão saúde à economia em geral e à empresa dele em particular. E di-lo num e-mail a todos os trabalhadores da empresa.
Escândalo: o título da notícia é "Multimilionário ameaça despedimentos se Obama ganhar". No texto, entre outros detalhes, informa-se que David Seagal vive numa casa com quase 3 hectares, inspirada em Versalhes (vê-se pela fotografia que Versalhes fica realmente muito longe da Florida, a casa nem com Vaux-le-Vicomte compete). Mas a informação é útil: um tipo que vive numa casa deste tamanho só pode ser um patife. E o patife leva o desplante a pontos de tentar influenciar o voto dos seus trabalhadores - maldito cacique.
Sucede que acho que Obama é, no Olimpo da política mundial, uma espécie de casamento gay entre Hermes, deus dos oradores, e Éolo, deus dos ventos. Falas bem mas fazes tudo o resto mal, Obama. E mesmo que o outro candidato já tenha o seu pé de meia de deslizes, se eu fosse Americano não hesitava.
E ainda que não me passasse pela cabeça escrever aos trabalhadores a confiar-lhes as minhas opiniões políticas, confesso não perceber por que razão é moralmente censurável fazê-lo: o voto não é secreto? os trabalhadores têm uma cabecinha tão fraquinha que a opinião do patrão, do padre, do polícia e do presidente da câmara - conta muito? tentar influenciar não é o que todos fazemos, até este ignoto escriba?
Histórias de gringos, é o que é. Nós cá não temos disso; nem casas à moda de Versalhes.
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