"O Observatório de Economia e Gestão de Fraude (ObeGef), da Faculdade de Economia do Porto, calcula que a economia paralela em Portugal tenha atingido um valor equivalente a 26,74% do PIB em 2012. Carlos Coimbra, membro da administração do INE critica a metodologia utilizada nesse tipo de estudos, nomeadamente, o facto de terem assumido, para um dado ano, 'um ponto de partida arbitrário' de 17% do PIB e de fazerem os cálculos como se o INE não incluísse já no PIB a sua estimativa para o que é a actividade económica não observada".
Isto é de rir: então dizem-nos há anos que a economia paralela é pr'aí um quarto do PIB, e agora, por um passe de mágica, afinal, é de apenas 13%?! E o Engº Paulo Morais, campeão destas coisas, como é que fica?
Não é que na realidade interesse muito: a principal utilidade na medição do PIB é poder compará-lo com anos anteriores e uns países com outros, e isso pode fazer-se sempre que os critérios de cálculo sejam os mesmos (desde que os PIBs passados sejam corrigidos, o que, aliás, é legítimo duvidar que seja feito, e certamente não o será no que já esteja publicado em papel). Mas são? A notícia fala da União Europeia e, salvo melhor opinião, conviria saber o que pensam destes assuntos, e o que vão fazer, outros espaços, em particular os EUA. E é também omissa na justificação: modificar os critérios de cálculo porquê?
É que a Europa não cessa de perder terreno em relação aos outros continentes. E essa realidade não vai certamente mudar por se definirem "a nível europeu regras de contabilização para as actividades relacionadas com prostituição, tráfico de droga e contrabando". Mesmo que os Franceses vivam na ilusão de serem grandes amantes; e ainda que as nórdicas tenham uma sólida reputação de promiscuidade, e os nórdicos de pamonhas: nada, absolutamente nada de científico, autoriza imaginar que os níveis de putedo sejam, na Europa, significativamente mais altos do que noutras paragens. O tráfico de droga é função da actividade policial - quanto mais actividade mais tráfico. E o contrabando, ainda que tenda a crescer na exacta medida das assimetrias fiscais entre países, não vai decerto atingir níveis que permitam aos dirigentes europeus dizerem: estão a ver, estão a ver como valeu a pena a estratégia de Lisboa?
Mas alguém, na democrática Europa, pariu esta nova versão do "Sistema Europeu de Contas - SEC", um prodígio de minúcia: no caso da prostituição, procura-se estimar indicadores como o número de pessoas a praticar esta actividade, o número de actos praticados e os preços praticados. Patriota como me honro de ser, espero que o INE tenha o jogo de rins necessário para, neste ponto, dar nas contas nacionais uma imagem lisonjeira do país, a benefício do turismo: praticantes inúmeros, actos inconfessáveis a granel e preços convidativos.
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