Domingo, 19 de Janeiro de 2020

O discurso da derrota

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Filiei-me no PSD na semana a seguir às eleições legislativas de Outubro de 2015, quando percebi que não havia meios constitucionais para impedir a formação de um governo sustentado parlamentarmente numa frente de esquerda radical, mesmo que o presidente da república se opusesse, como opôs sem procurar disfarçar a oposição a coberto da equidistância a que se encontrava obrigado, a essa reviravolta constitucional inédita ao resultado das eleições.

E filiei-me para me colocar ao serviço do PSD no combate pelo projecto político que estava a travar e pelo qual eu combatia a título individual e autónomo com os meios que tinha disponíveis como frequentador das redes sociais, o projecto de libertar o país do peso excessivo do Estado que o imobiliza e sufoca e em inúmeras situações condena à mediocridade, uma mediocridade que chega a matar, de viabilizar um Estado Social solidário sustentado em critérios de eficiência económica que lhe permitam disponibilizar a quem precisa os melhores serviços ao menor custo e com menor sobrecarga para a sociedade, de remover obstáculos fiscais e regulatórios à actividade económica que limitam o crescimento económico sustentável, de aumentar a transparência na gestão do Estado para evitar a sua apropriação por interesses privados, nomeadamente os dos detentores de cargos políticos e respectivos séquitos, e o risco de voltar a ruir de surpresa depois de os factores da ruína terem sido criteriosamente escondidos em contas manipuladas, criar um ambiente que permita à sociedade prosperar.

Isto, que qualquer político não socialista com veia poética seria capaz de escrever, e o facto de este projecto do PSD ser liderado por alguém a quem uns anos antes eu não teria dado grande crédito, um jovem telegénico com alguma projecção mediática oriundo das juventudes partidárias mas que quando se viu à frente de um governo sem dinheiro nem soberania que não fosse para aplicar um programa de austeridade negociado entre o governo anterior e as instituições que financiaram um país arruinado e dependente de financiamento para manter o funcionamento mais básico que já não conseguia encontrar mais ninguém que o financiasse, em que a concessão de cada nova parcela de financiamento dependia da aprovação pelas instituições do modo como vinha a ser aplicado esse programa, em que quem governasse não tinha alternativa a aplicar medidas de austeridade que não deixariam ninguém satisfeito, apesar de tornarem possível vir a deixar todos melhores por devolver a viabilidade ao país, não apenas pela tutela das instituições mas porque não tinha dinheiro para gerir de modo menos austeritário, teve a coragem de sacrificar qualquer ambição de prosseguir uma carreira política baseada, como as carreiras políticas em democracia não podem deixar de ser, na popularidade e na empatia com a maioria dos eleitores.

Se qualquer canalha consegue encontrar citações de Francisco Sá Carneiro em que se reveja como se tivessem sido pensadas para o qualificar, há pelo menos duas que, sem ele ter chamado a si a inspiração para Sá Carneiro as ter proferido, retratam precisamente a obra de Pedro Passos Coelho enquanto foi primeiro-ministro:

  • Primeiro Portugal, depois o partido, por fim, a circunstância pessoal de cada um, no modo como sacrificou as suas ambições pessoais e o jogo partidário para fazer o que tinha que ser feito para salvar Portugal, como salvou, nomeadamente ao ter optado em diversas ciscunstâncias por passar além da troika, porque não era a obediência às exigências da troika, mas a aplicação das medidas de austeridade possíveis e necessárias, que resgatariam Portugal da situação de dependência financeira em que estava, e
  • A política sem risco é uma chatice e sem ética uma vergonha, no modo como, mesmo assim, se predispôs a tomar decisões que pareciam catastróficas para as suas ambições pessoais e as do partido, porque a única forma de resgatar o país era tomá-las. 

E não é indiferente que alguns dos que aproveitaram a necessidade de esse governo tomar medidas impopulares para se colocarem ostensivamente ao abrigo de qualquer consequência negativa dessas medidas comentando-as como desnecessárias, consequência da maldade ou incompetência do governo que as tomou, e mesmo uma traição à matriz ideológica social-democrata do PSD, terem sido conhecidos militantes e ex-dirigentes do PSD, e de um desses ter sido o próprio Rui Rio. 

Filiei-me, portanto, para contribuir melhor para lutar por completar, depois de ter conseguido gerir e inverter a crise catastrófica criada pelo governo socialista precedente, um projecto político capaz de colocar Portugal de novo num caminho de prosperidade e de erradicar o risco de futuramente uma crise semelhante voltar a ocorrer. Se quiserem, para combater como soldado ao lado de Pedro Passos Coelho na oposição a António Costa e aos socialistas que tinham mergulhado Portugal nessa crise. Se quiserem ainda, mais por uma questão de simbolismo do que propriamente com esperança de poder desempenhar um papel que ajudasse Passos Coelho e o PSD a regressarem ao poder.

Desde então tenho feito aquilo que qualquer militante deve fazer. Coloquei-me ao serviço do partido e da secção onde sou militante, prestei a minha colaboração sempre que me foi pedida na medida das minhas capacidades e competências, aceitei os convites para integrar a Comissão Política da secção e a lista de candidatos do partido a uma Assembleia de Freguesia em lugar de eleição garantida, e exerço consequentemente funções de Vogal nessa Assembleia de Freguesia. Nem menos nem mais do que isto.

Não vale a pena repetir aqui a história dos últimos anos, nomeadamente o sucesso aparente das políticas de reposição de rendimentos adoptadas pelo governo António Costa que um contexto económico mundial favorável disfarça quaisquer consequências adversas que virá a ter. Os governos populistas de todo o mundo, seja em Portugal, seja nos EUA, tratam de insinuar que sucessos em domínios como o crescimento económico ou a redução do desemprego se devem às suas opções políticas, mesmo que opções de política económica como o aumento do salário mínimo e da carga fiscal ou o proteccionismo reduzam, no imediato ou a prazo, o crescimento económico e o emprego. Um dia será visível, mesmo para quem agora se deixa levar pela dinâmica de sucesso dos populistas, que estas opções foram perniciosas, mas na circunstãncia actual é inútil denunciá-las. Nem a saída da política activa de Pedro Passos Coelho, que resulta também desta dinâmica de sucesso aparente.

A verdade é que a Pedro Passos Coelho e à sua visão e capacidade de liderar a continuação do projecto político libertador sucedeu no PSD Rui Rio, primeiro em eleições onde defrontou Pedro Santana Lopes, depois num desafio à liderança lançado por Luís Montenegro que Rui Rio não quis aceitar, e finalmente nas eleições deste fim de semana que o confirmaram como presidente do PSD nos próximos dois anos.

Rui Rio apresentou-se como candidato à liderança do PSD com uma proposta de estratégia política e de liderança com alguns equívocos graves.

Apresentou-se com uma proposta de impedir o PS de governar condicionado pela extrema-esquerda, não derrubando o governo socialista e substituindo-o por um governo liderado pelo PSD e por ele, mas oferecendo-lhe um apoio alternativo ao apoio oferecido pelos partidos da esquerda que o sustentavam (e sustentam), o BE e o PCP, na esperança que apoiado pelo PSD o governo socialista se possa tornar menos extremista do que apoiado por eles.

Isto é um equívoco grave por vários motivos. Primeiro, conforma o PSD a um papel que nunca ambicionou ocupar, o de maior partido da oposição com esperança de influenciar o partido do governo, em vez de ocupar o papel do partido do governo capaz de governar, reformar e liderar e fazer progredir e prosperar o país, que assumiu múltiplas vezes no passado.

Depois, assume que o primeiro-ministro possa ter algum interesse na disponibilização da possibilidade de apoio do PSD que na realidade não lhe interessa para nada, por ele, um equilibrista e negociante competente, ser perfeitamente capaz de gerir os equilíbrios entre os socialistas, os bloquistas e os comunistas sem precisar de governar com a rede do apoio do PSD por baixo.

Finalmente, assume que o PS corre o risco de ser puxado para a esquerda por ser condicionado pelos apoios do BE e do PCP quando o PS actual, que não é o de Mario Soares ou de António José Seguro, ser tão esquerdista como eles, ser controlado ou por dirigentes mais velhos que vieram do MES ou mais novos que ingressaram no PS em vez do BE porque o PS, um partido de poder, oferece melhores oportunidades de emprego às suas namoradas que partidos de protesto da esquerda radical, um partido que veta sempre que lhe é dado vetar qualquer celebração do 25 de Novembro de 1975, um partido do lado dos derrotados nesta circunstância determinante da evolução da revolução do 25 de Abril de 1974 para uma democracia liberal em vez de uma "democracia" popular.

Prescindir da ambição de liderança que sempre motivou o PSD para ajudar um governo socialista que não precisa de ajuda a aliviar a influência da esquerda radical quando ele tem a esquerda radical no seu núcleo duro não serve para nada.

Apresentou-se com uma proposta de liderança do PSD populista, nomeadamente ao pretender dar ao partido um "banho de ética" e ao insinuar a qualquer foco de oposição interna "interesses" na defesa de "lugarzinhos", ou seja, ao propor-se combater as elites instaladas. E, como é próprio dos populistas, a insinuar poderes obscuros a essas elites através de organizações secretas, no caso dos oponentes internos a Maçonaria.

Eu tenho desde sempre algum cepticismo relativamente aos políticos que se procuram afirmar mediaticamente através do combate à corrupção. Com algum cinismo coloco sempre a possibilidade de nunca a terem praticado por nunca terem tido a oportunidade de o fazer, por nunca terem exercido funções executivas que atraem, pela capacidade de tomar decisões que envolvem muito dinheiro, propostas de corrupção. Também tenho notado que alguns dos que assumem publicamente o papel de combate à corrupção exerceram funções executivas mas nunca denunciaram casos concretos com que tenham deparado no exercício dessas funções, de que seria mais fácil apresentar evidências sólidas do que as meras insinuações mediáticas de suspeitas de casos que lhes são longínquos. Eu não sou capaz de acreditar que alguém que foi ministro das Obras Públicas ou vereador numa grande Câmara Municipal não tenha um único caso vivido na primeira pessoa para denunciar com conhecimento de causa e mesmo evidências.

A primeira vítima de insinuações vagas como o banho de ética ou a defesa dos lugarzinhos é a reputação de todo o partido que é deitada pelo ralo com a água do banho. De todo o partido, para não dizer de todo o sistema democrático, como os populistas hard não se cansam de tentar. E o primeiro beneficiado é, espera o autor das insinuações, o autor das insinuações, que ao fazê-las espera ficar automaticamente ilibado das suspeitas que lança sobre todos os outros.

Mas a verdade é que a ética praticada pelos dirigentes actuais do PSD não parece ter estado à altura da exigência que se esperaria fundamentar a denúncia de Rui Rio. Desde casos de caciquismo, a negócios obscuros de autarcas, a casos de presenças falsas no parlamento, não se verificou nenhum padrão de exigência ética que distinguisse claramente esta direcção de qualquer direcção de qualquer partido de poder onde a ética nem sempre consegue resistir às tentações que o exercício do poder atrai. E por contrapondo relato aqui uma historieta que se passou comigo. Nos meus primeiros tempos de militante no final de 2015, ainda com Passos Coelho a liderar o seu segundo governo, um secretário de Estado foi à secção onde milito ter um encontro com militantes. Depois da reunião disse a um amigo deputado "os secretários de Estado andam de BMW série 3 e motorista", ao que ele esclareceu "O carro não era do governo, devia ser do partido, porque o Passos não deixa os governantes levarem o carro para essas reuniões".

E a eleição da ética dentro do PSD como tema nuclear da sua afirmação como dirigente e a falha em acompanhar as expectativas de exigência implícitas nessa escolha é especialmente penalizadora para o PSD e proveitosa para o governo, porque desviou o foco público das falhas de ética num governo cheio de casos de nepotismo e corrupção a níveis de que não há memória e que mereceram mesmo os títulos da imprensa internacional para pechas infantis como presenças falsas de deputados do PSD no parlamento.

Um terceiro equívoco é a tentativa de a actual direcção do PSD se desligar da "herança Passos".

O calculismo da opção é evidente, a tentativa de largar o lastro das medidas impopulares que o governo Passos foi forçado a adoptar para resgatar o país da dependência das instituições internacionais. A demagogia tembém, sem essas medidas impopulares, e sem a coragem para as assumir contra tudo e todos, a começar pela popularidade de quem as assumiu, não como a concessão a uma imposição de terceiros mas por serem necessárias, Portugal ainda andaria hoje de resgate em resgate como a Grécia andou em vez de se ter libertado definitivamente da dependência da troika em 2014, como estava planeado e parecia improvável a muitos, a quase todos. Sobra a estupidez de, ao assumir a falta de apoio e mesmo a oposição a essas medidas do governo Passos, a direcção do PSD deixar o governo socialista desligar-se também delas, que no entanto foram adoptadas maioritariamente ainda no tempo do governo socialista anterior, a estupidez de possibilitar aos socialistas designarem por "cortes do governo Passos" cortes que foram de facto deliberados e implementados pelo governo Sócrates.

E pior do que estes erros circunstanciais é renegar a herança reformista do PSD na história da democracia portuguesa que foi determinante para três libertações de Portugal: a libertação da tutela militar, iniciada pelos governos Sá Carneiro, a libertação da economia estatal, levada a cabo pelos governos Cavaco Silva, e a libertação da dependência externa, conseguida contra todas as expectativas pelo governo Passos Coelho. Sem esta memória o PSD é um partido dispensável.

Tudo junto, não é difícil de entender o apoio que, nos processos eleitorais internos do PSD, tem sido publicamente concedido a Rui Rio por socialistas como António Costa ou por comentadores esquerdistas e ferozes opositores de qualquer papel de liderança do PSD na evolução da sociedade portuguesa como Clara Ferreira Alves ou Daniel Oliveira. Eles podem ser intelectualmente desonestos mas sabem bem quem lhes serve os interesses e quem lhos contraria.

Mas apesar disto que acabei de dizer e das duas derrotas eleitorais em eleições nacionais em 2019, essencialmente a derrota nas eleições legislativas onde é escolhido o primeiro-ministro, e essencialmente devido às grandes distritais do Porto e de Aveiro, os militantes do PSD escolheram reconduzir Rui Rio na presidência do partido.

Eu não me revejo no PSD de Rui Rio e não vejo que ele precise de mim. Não estou e nunca estarei do mesmo lado de António Costa, Clara Ferreira Alves e Daniel Oliveira. O combate que me motivou a filiar-me no PSD já não está a ser travado pelo PSD.

Resta-me, como militante e como membro da Comissão Política da secção, continuar a colaborar como tenho colaborado sempre que me for solicitado pela secção da Amadora ou pelo seu presidente, o deputado Carlos Silva que estimo e admiro, e a procurar servir os eleitores da Freguesia da Venteira na Assembleia de Freguesia para onde fui eleito em 2017. E nas redes sociais continuarei a combater o socialismo como sempre combati, antes e depois de me filiar no PSD. Mas não vou colaborar numa secundarização do PSD face ao PS, não quero colaborar no que pode proporcionar uma mexicanização do regime. Quero combatê-la.

publicado por Manuel Vilarinho Pires às 18:51
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Domingo, 12 de Janeiro de 2020

A segunda volta

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Na primeira volta apoiei e votei em Luís Montenegro.

A campanha de Rui Rio e dos seus apoiantes focou-se nas insinuações de carácter sobre os opositores, sobre pretensos negócios obscuros ou ligações à Maçonaria. Tratou-os como inimigos como não trata os opositores externos. Como tratou antes o partido como um antro de corrupção ao pedir um "banho de ética". Nunca hesitou em sacrificar o nome e a imagem do partido para se promover pessoalmente.

Com ele o PSD, o único partido que já obteve mais de 50% dos votos em eleições legislativas, conforma-se com a posição de maior partido de oposição incapaz de ultrapassar o PS mesmo com a esquerda fragmentada, incapaz sequer de influenciar o PS que só em caso de necessidade extrema necessitará do seu apoio. Proporcionando ao PS a mexicanização do regime que impõe a um regime pluripartidário os vícios de um regime de partido único.

Primeiro ele, depois o partido, depois Portugal.

Acabado de sair de uma derrota pesada nas eleições legislativas, acusou Montenegro de perdedor em eleições municipais. O mesmo Montenegro que no parlamento deu a cara durante uma legislatura, em que Rio se escondeu, pelos sacrifícios que o povo português teve que sofrer para ultrapassar com sucesso a falência do governo socialista.

O PSD para sobreviver como partido competente para governar Portugal tem que inverter este plano inclinado para a irrelevância. Precisa de ética, competência e capacidade de liderança. Na segunda volta apoiarei e votarei em Luís Montenegro.

publicado por Manuel Vilarinho Pires às 15:41
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Quarta-feira, 1 de Agosto de 2018

Para Rui Rio o PSD é a mesma coisa que o BE

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Desde que apresentou a sua candidatura à presidência do PSD, e continuando depois de ter sido eleito, Rui Rio e a sua direcção fizeram da insinuação, sem concretizar, como é próprio da insinuação, que o PSD é um partido de gente desonesta uma das linhas sistemáticas da sua estratégia de comunicação.

Que o partido precisa de um banho de ética, que se há investigações judiciais, aliás desencadeadas por uma denúncia anónima, possivelmente de alguém do próprio partido, a nomeações suspeitas de assessores em autarquias do PS e do PSD, os factos ocorreram durante a direcção de Passos Coelho, que provavelmente há especuladores imobiliários no PSD.

Porque se dedica a fazer insinuações, não identificadas, sobre a falta de ética dos militantes, não identificados, do PSD, só ele saberá a razão, e não podemos mais do que especular para tentar adivinhá-la.

Talvez porque a insinuação recorrente pode induzir o público no engano de acreditar que quem a faz está acima dos comportamentos reprováveis que insinua, numa lógica de o primeiro a apontar o dedo merece imunidade? Talvez. Mas na realidade não está, e a insinuação costuma até ser usada por pessoas desonestas para sujar o nome de pessoas mais honestas do que elas. Há mesmo vários ditados populares para explicar que quem é muito desconfiado por natureza é geralmente desonesto, mas eu não me lembro de nanhum para citar aqui.

Talvez por ter esperança que as insinuações o beneficiem por lançar suspeitas sobre os seus adversários políticos? Se for por este motivo, não parece particularmente inteligente. Porque se no interior do PSD as insinuações o podem beneficiar relativamente aos alvos delas, que por não serem concretizados podem ser potencialmente todos os outros militantes do partido, com alguma habilidade comunicacional podendo sugerir a excepção dos que o rodeiam, no exterior do partido as insinuações apenas lançam suspeitas sobre o PSD e desse modo apenas beneficiam os outros partidos. Estes partidos não precisam de ter génios do tacticismo político, e alguns deles têm figuras muito competentes em tacticismo político, a começar pelo primeiro-ministro, para transformarem o "banho de ética" numa autocrítica ao PSD, o comentário sobre a investigação aos assessores numa crítica ao PSD de Passos Coelho, neutralizando o facto de a investigação também abranger autarquias do PS, e a admissão de que também pode haver especuladores imobiliários no PSD uma neutralização da pressão mediática sobre os especuladores imobiliários do BE, deixando a ideia de que são equivalentes aos do PSD.

Na boca do presidente Rui Rio e da sua direcção o PSD é, pois, um partido de gente desonesta. Incluindo-me a mim, que ao longo dos meus 61 anos de vida acumulei na política uma fortuna de 128,24€ (cento e vinte e oito euros e vinte e quatro cêntimos) em sete senhas de presença na Assembleia de Freguesia da Venteira para que fui eleito em 2017.

Há no entanto uma hipótese alternativa para explicar esta insinuação sistemática sobre a falta de ética no PSD. A de ser, não uma estratégia de comunicação, mas acidental.

Quando admitiu que pode haver casos como o de Ricardo Robles no PSD Rui Rio pode apenas ter caído ingenuamente na armadilha infantil que lhe foi estendida pela jornalista para lhe sacar um título sensacionalista quando lhe perguntou "Pode garantir que algum vereador do PSD ou deputado não faz fortuna à conta da especulação imobiliária?". A pergunta tem erros de sintaxe, mas a armadilha é bem visível. E em vez de lhe ter respondido, como podia e devia, algo que desviasse o foco da questão de no PSD se fazer especulação imobiliária como o bloquista foi apanhado a fazer, fazendo do PSD uma coisa semelhante ao BE, para o facto de, se alguém do PSD fizesse especulação imobiliária não estaria a violar hipocritamente em privado, como o bloquista esteve, os princípios morais e políticas que prega, porque a especulação imobiliária não é reprovável à luz dos princípios em que acredita e que prega quem acredita na economia de mercado, Rui Rio caiu na armadilha e admitiu que no PSD também pode haver especuladores imobiliários.

Se tiver acontecido isto Rui Rio errou, não por ter apontado os seus tiros ao próprio partido, mas por não ter a competência para comunicar que alguém com a ambição e na circunstância de um dia poder chegar a primeiro-ministro precisa de ter.

Não é melhor nem pior, é mau na mesma.

E eu não tenho meios de avaliar nem posso mais do que especular se Rui Rio tem um discurso que prejudica o PSD por intenção ou falta de preparação.

Uma explicação alternativa é a de ele ter conhecimento de casos de fazer fortuna dentro do seu círculo mais chegado de apoiantes e não ter sido capaz de não o reconhecer?

Venha o Diabo e escolha.

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publicado por Manuel Vilarinho Pires às 19:07
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Quinta-feira, 19 de Julho de 2018

Quem representam os deputados?

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história conta-se em poucas palavras. Na Comissão de Agricultura e Mar (CAM) da Assembleia da República o PSD e o PCP tinham chegado a acordo sobre o apoio do primeiro a uma proposta do segundo, suficiente para garantir a sua aprovação, para conceder aos proprietários cujos terrenos fossem integrados em faixas de gestão de combustível, e por isso sujeitos a operações de manutenção acrescidas ou a restrições na sua utilização, uma compensação. O presidente do PSD ordenou ao grupo parlamentar permitir o chumbo da proposta pelo PS, abstendo-se. E o grupo parlamentar seguiu as ordens do chefe e a proposta foi rejeitada com os votos contra do PS que reflectiu a posição contra do Governo.

Como sublinhou hoje o Henrique Pereira dos Santos, o PCP defendeu a propriedade privada através de uma compensação justa aos proprietários cujos terrenos sejam condicionados no seu uso pelo interesse colectivo, e os outros partidos deixaram-na cair, aceitando a opção do governo por impôr aos proprietários os custos deste condicionamento.

Chegados aqui há que fazer uma primeira observação, até para se perceber a razão para uma aparentemente inesperada conjugação de posições entre o PCP e o PSD. O PCP e o PSD são, e digo isto sem nenhum estudo sociológico que o comprove mas convencido que não é uma asneira, os dois partidos mais próximos daquilo a que se chama o país real. O PCP com a sua implantação tradicional entre o operariado e o campesinato, tão nuclear que faz de meros empregados de escritório intelectuais na classificação que o partido usa para os seus próprios militantes, e o PSD com a sua implantação tradicional entre pequenos agricultores, pequenos industriais e pequenos prestadores de serviços, a classe esmagadora no tecido económico português dos que não são assalariados nem funcionários públicos e todos os dias têm que lutar pela vida. O que significa que, para além das diferenças ideológicas que nem vale a pena enumerar, são partidos que quando se fala de imposição de obrigações e limitação da liberdade de utilização do seu património a pequenos proprietários sabem exactamente do que se fala, de quem atinge, e das consequências, conhecimento do terreno que não é óbvio em partidos de quadros, de funcionários, de activistas ou de cientistas sociais.

E, portanto, o PCP e os membros do PSD na CAM tinham acordado que os proprietários deviam ser compensados pela sua perda de liberdade na utilização do seu património para servir o interesse público, e o Rui Rio deu ordem ao grupo parlamentar do PSD para deixar cair o compromisso. Com que ganhos políticos que justifiquem o prejuízo político potencial de negar aos proprietários qualquer contrapartida por se verem impedidos de dar aos seus terrenos o uso que entendam, desse modo associando-se ao governo socialista no desrespeito pela propriedade privada, não explicou.

O que me suscita uma interrogação habitual. Quem devem representar os deputados: os eleitores que os elegeram, ou a direcção do partido cujas listas integraram?

Formalmente os deputados representam os eleitores e são donos dos mandatos que recebem deles. Uma vez um deputado eleito para a Assembleia da República só pode ser removido por perda de mandato, e apenas em circunstâncias de gravidade bastante definidas na lei, ou por renúncia do próprio.

Na prática sabemos que podem estar sujeitos a fidelidades informais, nomeadamente em sistemas eleitorais como o nosso em que os deputados são eleitos em listas e não em candidaturas individuais. A escolha dos deputados é determinada em grande parte pela direcção do partido quando os coloca nas listas de candidatos em lugares de eleição garantida, de risco ou impossível, pelo que pode ser possível terem assumido compromissos prévios com a direcção do partido antes de serem colocados nas listas. O que não altera em nada o anterior, porque qualquer compromisso desta natureza não pode ter força de lei nem lhes pode ser imposto contra a sua vontade, mas pode ter o valor que tem um acordo de cavalheiros.

Com quem não assumiram garantidamente compromissos antes de ser eleitos é com futuras direcções do partido em cujas listas se candidataram e foram eleitos. Pelo que não é impossível haver alguma diferença de objectivos, de estratégias e de posições entre um grupo parlamentar de um partido e a sua direcção quando a direcção mudou depois das últimas eleições. Diferença que, em função da capacidade de liderança da nova direcção e da relação que desenvolver com o grupo parlamentar em funções pode ser facilmente ultrapassada, e costuma ser facilmente ultrapassada com o grupo parlamentar a alinhar as suas posições com as da direcção, ou radicalizada, com o grupo parlamentar a ser forçado a escolher entre a sua própria orientação política e as ordens da direcção do partido.

De modo que, bem ou mal, os deputados do PSD que estão na Assembleia da República representam os eleitores que os elegeram, e representam-me tanto a mim, que sou filiado no partido e dirigente local, como a minha vizinha do 2º andar, que não é filiada mas votou no PSD tal como eu, como o presidente Rui Rio, que acredito que também tenha votado no PSD como eu e ela.

O que significa que quando, depois de tomarem uma posição no parlamento em minha representação, que os elegi, os meus representantes a alteram por pressão da direcção do partido, prescindiram de me representar a mim para a representar a ela.

O risco que corre o partido com a desautorização pública do grupo parlamentar é o de alienar os votos dos eleitores que se sentiam representados por ele mas não se sentem representados por quem os desautoriza.

É o de se dirigir para um pântano, e às cegas.

 

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publicado por Manuel Vilarinho Pires às 19:35
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Sexta-feira, 12 de Janeiro de 2018

Declaração de voto

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O PSD perdeu o presidente mais ético, corajoso e determinado da sua história.

E como eu sou militante, e talvez haja outros militantes entre os leitores, deixo aqui a minha declaração de voto nas eleições internas para o substituir, e o meu compromisso.

Dos candidatos a substituí-lo, um é apoiado pelo pior que existe no partido, os barões que sempre o usaram como palco para se projectarem ou como instrumento para fazerem negócios privados, os literalmente gangsters com condenações por agressões ou casos de malas de dinheiro, os sectários que quando o lideraram excluiram todos os que os tinham confrontado em eleições internas, incluindo o Pedro Passos Coelho, e os traidores que passaram a última legislatura a combater o partido e a promover a oposição socialista ou mesmo bloquista. Ser apoiado por esta gente não faz dele vigarista ou gangster, porque sectário e traidor foi ele mesmo pessoalmente, mas sinaliza que com ele na liderança se sentem mais à vontade do que com o adversário. Neste nunca votaria, e a minha escolha fica limitada a um candidato único.

O Santana Lopes não foi o melhor primeiro-ministro da história de Portugal. Nem podia ter sido, foi usado como um precário para dar tempo aos socialistas para se reorganizarem para as eleições e depois destituído no acto mais sectário de toda a história da presidência em democracia, a dissolução de um parlamento com maioria absoluta para permitir a eleição de um socialista que depois arruinou o país, para além dos crimes por que um dia será condenado. Na época pareceu-me que tinha aceitado ser primeiro-ministro sem legitimidade eleitoral por se deslumbrar com a possibilidade de lá chegar. Hoje sei que se sacrificou pessoalmente por pressão do partido que o colocou na posição de não ser capaz de lhe dizer que não. Era, e já foi, mais imaturo do que é hoje. Mas é um combatente político de muitas décadas, e quando se viu mal representado pelo partido ponderou sair e formar outro partido em vez de ficar por dentro a miná-lo, como fizeram os do outro lado. Não foi por ele que eu me filiei no PSD, mas voto nele sem hesitação e com entusiasmo.

Se os militantes do PSD amanhã optarem pelo PSD dos barões, dos gangsters, dos sectários e dos traidores, desejo-lhes uma boa viagem, é o partido com a base de militantes mais extraordinária, decente e representativa da sociedade portuguesa, mas fico no cais.

Para os que votam, votem bem. Eu voto bem, e voto Santana Lopes.

publicado por Manuel Vilarinho Pires às 10:38
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Sexta-feira, 14 de Julho de 2017

Revisão de contas, ou, o tele-evangelismo dá dinheiro

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Ao abrigo do artigo 20.º, n.º 2, alínea d) da Lei Orgânica n.º 2/2005, de 10 de Janeiro, com referência apenas ao balanço e demonstração de resultados, e incluindo as contas dos grupos parlamentares e de deputado único representante de um partido na Assembleia da República e nas Assembleias Legislativas das regiões autónomas, nos termos da alínea e) do artigo 9.º da Lei 28/82, de 15 de Novembro, na redação dada pelo artigo 1.º da Lei Orgânica n.º 5/2015, de 10 de Abril, a Entidade de Contas e Financiamentos Políticos publicou no seu site, as Contas Anuais dos Partidos Políticos referentes ao ano de 2016.

Para atalhar razões, a comunicação social deu-se ao trabalho de extrair dos relatórios a Situação Líquida dos partidos com assento parlamentar, e é apenas sobre ela que eu vou dar o meu parecer.

Para não entrar a frio nos números, que como toda a gente sabe, não são pessoas, devemos olhar previamente para a economa das operações, ou seja, para os relatórios de actividade. Na sua indisponibilidade, apoiemo-nos no que sabemos, ou pensamos saber, sobre a fortuna dos partidos.

Em Portugal há três grandes partidos, ou seja, partidos com muitos militantes, muitas sedes e muita despesa: o PSD, o PS e o PCP, por ordem decrescente de número de eleitores, que não necessariamente do número de militantes ou da estrutura de custos.

Destes, o Partido Comunista Português é o mais antigo, provavelmente o que tem mais militantes, e certamente o que tem mais militância. É, ao contrário do que os resultados eleitorais nos últimos 40 anos sugerem, um partido profissional, e um partido de poder. No dia 25 de Abril de 1974, apesar de ter uma boa parte da estrutura de liderança exilada em diversos países, teria sido capaz de apresentar um governo completo e pronto a entrar em funções antes de acabar o dia. E no dia 14 de Julho de 2017 também seria, e sem ter de recrutar os governantes entre os familiares de meia dúzia de amigos do primeiro-ministro. É também o partido que dominava o aparelho do Estado quando foi distribuído pelos partidos o património que se podia distribuir. E como quem parte e reparte e para si não deixa a melhor parte ou é burro ou não tem arte, e o sector intelectual do partido sempre contou com bons artistas, para além dos empregados de escritório, o PCP juntou um bom pecúnio em património imobiliário nos tempos do processo revolucionário em curso. Acresce que o grau de militância dos comunistas, quase comparável ao de uma seita religiosa, sempre se prestou a boas receitas de quotizações dos militantes, sem contar com o dízimo dos que assumem funções públicas remuneradas, para além do intenso voluntariado prestado pelos militantes de base para realizar tarefas que, em partidos mais burgueses, só aparecem feitas se forem terciarizadas, ou seja, se pagarem para as mandar fazer. Tudo junto, potencia um património imobiliário portentoso, um bom nível de receitas e uma estrutura de custos bastante competitiva para a dimensão das operações. E, sem supresa, o partido mais rico de Portugal é, de longe, o PCP, com uma situação líquida de perto de 18 milhões de euros, mesmo com a exiguidade da subvenção pública que os seus não mais de 10% de eleitores lhe proporcionam regularmente.

O Partido Social Democrata, mesmo sendo o campeão em vigor da subvenção pública, por ter ganho as eleições, e as conseguir ganhar com alguma regularidade, está muito longe do PCP, mas tem uma situação líquida apreciável. De fora do partido pode dar a impressão que é um partido de poder que nada em dinheiro, como se gosta de assumir para a política de uma maneira geral, mas de dentro percebe-se que não. Sendo militante ao serviço da secção de uma das maiores cidades do país, a Amadora, posso testemunhar, sem revelar segredos que devem ser mantidos em segredo, que a vida no interior do partido é bastante austera, o único equipamento de telecomunicações disponível na sede é um descodificador de televisão digital que compensa a idade do televisor que seria só por si incapaz de sintonizar os quatro canais digitais, e, internet sem fios, apanha-se por mero caso a gratuita da loja do Continente Bonjour que fica paredes-meias com a sede do partido e está ligada 24 horas por dia. Menos nas próximas semanas em que a loja entrará em obras e provavelmente desligará o benfazejo router wireless. Ou seja, fazendo dieta e vivendo de cinto apertado chega-se uma situação líquida modesta, de quase 1,2 milhões de euros, mas positiva.

O Partido Socialista tem a virtude da coerência. Apesar de também ter constituído um valioso patrimínio imobiliário nos tempos áureos da revolução, provavelmente não tão valioso como o do PCP, mas só o palácio do Rato deve valer uma pipa de massa, de pedir regularmente meças ao PSD em votos e em subvenções partidárias, e de ter um grande número de militantes que pagam quotas, apresenta uma situação líquida negativa de 6 milhões de euros, ou seja, está, exactamente como deixou o país da última vez que legou responsabilidades governativas a outros, tecnicamente falido, e muito falido. O PS não desilude as expectativas que levanta.

O Centro Democrático Social é um partido mais pequeno do que estes, mas praticamente com a mesma idade, exceptuando o PCP que vem dos tempos do jurássico, com uma rede de sedes apreciável, e custos consonantes, e tem uma situação líquida negativa de quase 100 mil euros, ou seja, está em situação de falência técnica. Nada com uma dimensão que não possa ser ultrapassada num partido de quadros que facilmente poderão mobilizar recursos para a inverter, mas um símbolo inequívoco de que a política não dá dinheiro como se gosta de pensar. O partido dos ricos não é um partido rico.

Com o Partido Ecologista os Verdes e o Partido Animais e Natureza não gasto tinta. Os primeiros, por serem um franchise do PCP montado há 34 anos para entrar no eleitorado mais jovem com preocupações ambientais que um partido soviético dificilmente conseguiria satisfazer plenamente, e tendo inflectido há 30 para a formação de um grupo parlamentar de 2 deputados que lhe dá direito a duplicar os tempos de antena e as nomeações para cargos políticos pelos partidos de incidência parlamentar, e os segundos por não me terem encomendado a certificação de contas nem eu estar para esse lado virado.

Resta o fenómeno da turma. O Bloco de Esquerda, partido diminuto em militantes, número de sedes e estrutura de custos, com um grau de implantação praticamente nulo no poder autárquico, à medida exacta da sua implantação no terreno, mas com uma presença quase permanente e omnipresente na comunicação social e no comentariado e nas notícias televisivas, fruto, talvez? do valor e do interesse público das opiniões dos seus dirigentes e comentadores, talvez? da simpatia de que gozam entre jornalistas, editores e proprietários de jornais e canais, apresenta, com 2,4 milhões de euros, a segunda mais elevada situação líquida, logo a seguir ao PCP e com mais do dobro da do PSD.

E o que significa isto tudo somado? Que um partido não tem que investir numa infraestrutura física real nem numa implantação no terreno, e, mesmo com uma oferta política toda ela baseada em ilusões e disparates em tudo semelhantes às que provam o seu valor no terreno económico no socialismo venezuelano, na melhor das hipóteses, e no sonho de um mergulho no socialismo em tudo semelhante ao que prova o seu valor no terreno democrático no socialismo venezuelano, na pior, pode conseguir obter níveis de votação que lhe dão o acesso a generosas subvenções partidárias, desde que consiga assegurar uma presença acarinhada, permanente e omnipresente nas televisões. Por outras palavras, o tele-evangelismo que é gratuito, quando não remunerado, quando o acesso à televisão lhe é franqueado sem pagar por ele a título de compra de espaço publicitário, rende mais do que a montagem de um partido tradicional com sedes e militantes.

De modo que, a título de síntese e de recomendações, se quiserem fundar um partido e ainda ganhar umas coroas, evitem montar grandes partidos com muita gente, que são uma maçada e uma despesa, vão à televisão o mais que possam, e gozem da notoriedade que ela vos proporciona. Optem pelo tele-evangelismo.

publicado por Manuel Vilarinho Pires às 11:29
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Domingo, 19 de Março de 2017

Uma p., mas uma p. que f. bem

2017-03-19 Pacheco sobre Sócrates.jpg

Todas as profissões têm, pese embora o princípio da igualdade plasmado no Artº 13º da Constituição da República Portuguesa, os seus expoentes e os seus membros mais fracos, e a de comentador não escapa a esta infeliz regra.

No Diário do Governo Público de hoje o comentador (do PSD, para as estatísticas destinadas a provar a presença sufocante e a carecer de limpeza urgente do PSD no espaço do comentariado) José Pacheco Pereira publicou um comentário sobre a Operação Marquês com críticas à condução do processo, nomeadamente por fazê-lo crescer de modo exponencial sem produzir acusação em vez de ir levando a tribunal as acusações que já estão solidamente provadas e ir investigando paralelamente as novas suspeitas que vão surgindo, e a riqueza opulente do currículo do arguido propiciará o aparecimento regular de novas suspeitas durante pelo menos as próximas décadas, que genericamente eu sou capaz de subscrever e tenho muitas vezes manifestado a quem me lê.

Para contextualizar a sua opinião sobre o processo que critica, o comentador começa por fazer um breve resumo das qualidades do arquido José Sócrates, focada nas cumplicidades políticas que permitiram a sua ascenção e o exercício das malfeitorias que dedicou a sua passagem pelo poder a fazer. Em quais?

  • Na do presidente Jorge Sampaio, que nomeou um governo para lhe dar tempo de tomar conta do partido e, quando ele ficou pronto para concorrer às eleições, derrubou o governo que tinha nomeado a pretexto de se ter fartado dele? Não.
  • Na do Partido Socialista, que o elegeu para o chefiar e para se candidatar a primeiro-ministro e sempre o defendeu heroicamente enquanto exerceu o seu mandato? Também não.
  • Nas dos seus colaboradores mais próximos no governo ou no partido, ou mesmo nos dois, como a do actual primeiro-ministro e seu companheiro de tertúlias televisivas e então número dois do Sócrates, António Costa? Nunca, Deus o livre!

Mas isto são perguntas de retórica, porque todos os leitores já adivinharam que cumplicidades com o Sócrates é que poderiam alguma vez ser denunciadas pelo Pacheco Pereira: a cumplicidade da direita e, especificamente, do PSD.

É preciso ser senhor de um nível superlativo de trafulhice, comparativamente com o qual o Sócrates é um mero menino de coro provinciano para, num relato sucinto do seu percurso de ascenção e queda, só apontar como referência ao papel de outros agentes políticos:

  • "...A direita que o louvou como o social-democrata do PS, como aquele que tinha roubado o programa ao PSD, que andou ali a fazer-lhe a corte nos interesses e na política, agora, certamente por complexo de culpa, vai lá apedrejá-lo como se nada tivesse que ver com o homem. Mais, em vários momentos cruciais, protegeu-o de acusações muito semelhantes àquelas de que hoje lhe faz o Ministério Público. Na comissão de inquérito parlamentar, por cuja existência pugnei bastante sozinho, o PSD indicou como seu porta-voz Agostinho Branquinho, que depois de assistir à inquirição dos responsáveis da Ongoing, envolvidos na trama de Sócrates, acabou por ir para lá trabalhar como assalariado. Mas a verdade, é que quando se tratou de chegar às conclusões do inquérito, por uma intervenção pessoal de Branquinho, Miguel Relvas e Passos Coelho, travaram tudo o que incriminava Sócrates, porque não era politicamente conveniente e era um ataque pessoal. Repito o que já escrevi há muitos anos sobre Sócrates e as cumplicidades do PSD: estamos conversados... "

Identificados com a mestria ímpar que lhe é própria os verdadeiros responsáveis pela ascensão e pelas malfeitorias do Sócrates enquanto primeiro-ministro, a direita e o PSD, há que chamar a atenção para o facto de o comentador Pacheco Pereira ser, acumulando com a militância reconhecidamente leal no PSD, uma espécie de comentador avençado do governo do primeiro-ministro António Costa, que simbolicamente o galardoou com a sua primeira nomeação política ao fim de apenas duas semanas de governo para o Conselho de Administração da Fundação de Serralves. O comentário é genial mas não lhe saiu a despropósito nem como um mero acaso. Saiu-lhe com o propósito bem definido de evitar questionar a associação entre o seu amigo, colega de antigas tertúlias televisivas, e padrinho de nomeações António Costa, e toda a máquina de cumplicidades socialista que mantém no terreno e manteve no passado, e o Sócrates que, com o tempo, se transformou num passivo político, e a substituir essa interrogação comprometedora pelo apontar de dedo aos eternos suspeitos nas suas crónicas, a direita e o PSD. Duplamente genial, no conteúdo, e em colocá-lo ao serviço do propósito.

Este comentador é uma p., mas uma p. que f. bem!

 

PS: Para o caso de andarem por aí esbirros da polícia dos costumes, que não há mas eles gostavam que houvesse, a vasculhar as redes sociais à procura de oportunidade para me colocar um processo em cima por abuso da liberdade de expressão, neste novo tempo socialista a liberdade de expressão é uma excentricidade de que se tende a abusar, esclareço desde já que o título desta publicação significa "Uma pessoa, mas uma pessoa que fala bem".

publicado por Manuel Vilarinho Pires às 12:06
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Quinta-feira, 17 de Novembro de 2016

A Quadratura do Circo

mw-800.jpg

Com o tremendismo típico de um charlatão de feira, de um vendedor de aspiradores Rainbow, ou de um pastor de almas, que anunciam aos seus ouvintes catástrofes iminentes que só podem ser evitadas in-extremis, respectivamente, pelos elixires milagrosos que tem para vender, pelo filtro HEPA que afoga os ácaros, e pelas rezas que fazem retroceder o demo, o tele-evangelista José Pacheco Pereira fez à seita de adoradores que lhe bebe piamente a Palavra uma revelação extraordinária e assutadora: que o partido a que ele sempre dedicou o melhor que tinha para dar "está hoje, com direções distritais todas na maçonaria". Todas!

Os adoradores, está de ver, já esperavam a revelação que, como todas as outras revelações deste profeta, confirmam sempre as suas suspeitas mais lúcidas. É disso que gostam nele, de lhes dizer com eloquência aquilo que eles já sabem, que o PSD é, desde que deixou de o considerar para cargos directivos ou internacionais, um antro de malandros, com excepção de um pequeno núcleo de resistentes, os últimos dos social-democratas do partido, de que fazem parte ele próprio, a Manuela Ferreira Leite e o Rui Rio. E quanto mais ele lhes confirma isso, mais acreditam nele, e naquilo em que já acreditavam antes de ele lhes dizer. Quando tudo se confirma, tudo está bem.

Confirmaram eles, mas não consegui confirmar eu. Pois se um desses presidentes de distrital é amigo de há quase 40 anos, compadre e comensal regular desde que veio para Lisboa para o parlamento, e só usa avental na cozinha, tal como eu quando me aventuro nessas artes, mas nunca o vi de avental fora da cozinha, e sei que não usa, como podem ser os presidentes das distritais todos maçons? Não podem.

Eles próprios também não conseguem confirmar que são todos maçons. Alguns deram-se mesmo ao trabalho de chamar os jornais para o desmentir, apelo a que pelo menos o Correio da Manhã, mas o Correio da Manhã não é da seita, toda a gente sabe, respondeu publicando o desmentido.

Ora até o Jorge Jesus é, pelo menos desde que começou a estudar os filósofos chineses, capaz de dominar a lógica aristotélica e de perceber que quando se diz que são todos e há pelo menos um que não é, se mentiu. O Pacheco Pereira mentiu.

O que vai ser dos adoradores, agora que o seu profeta foi apanhado a mentir?

Nada de especial. Como dizia o senhor Osgood Fielding III na lendária frase final do Some Like it Hot, "Nobody is perfect...".

 

publicado por Manuel Vilarinho Pires às 02:05
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Quinta-feira, 21 de Março de 2013

Não é da nossa conta

 

 

As "redes sociais" estão em alvoroço. Uma parte grita porque a RTP "abandonou" o "serviço público" para gastar o dinheiro dos contribuintes com um novo "conteúdo" semanal, protagonizado por Sócrates. Outra parte grita com a primeira, porque Sócrates foi "diabolizado" em detrimento de outros bandidos. Outra ainda espuma de ódio satisfeito porque "agora é que vai ser", para "equilibrar" a saliência de Marcelo e de Marques Mendes. Esta rapaziada encontra ainda uma segunda fonte de prazer; daqui para a frente, já não teremos só "Relvas a mandar na RTP".

 

Quando ninguém esperava, surgiu a correspondente "petição" que desta vez se chama "Recusamos a presença de José Sócrates como comentador da RTP" (parece que já vai assinada com abundância). Nos últimos dois anos, a "cidadania" alojou-se com doçura no coração dos portugueses.

 

Neste cenário, discute-se o adorado problema da "liberdade de expressão" e do "pluralismo" no "espaço público". E investiga-se, com pertinácia, se Sócrates vai ou não ser "remunerado" pelos "serviços" que se prepara para "prestar à RTP".

 

Aparentemente, não vai ser "remunerado". O que deixa à vista toda a explicação para a manobra. Porque torna claro que a "participação" no programa é totalmente do interesse de Sócrates.

 

Resta perguntar como é que Sócrates obtém o melhor palco que se pode dar a um político para iniciar o seu processo de reabilitação. E a resposta não é difícil: isto só pode acontecer com a conivência de quem manda na RTP.

 

Esclarecidos que ficamos sobre o entendimento de Sócrates com Miguel Relvas, fica por saber o que é que o PS dará ao PSD por troca deste servicinho, sem o qual o PS tão depressa não deixaria de se arrastar por uns valores embaraçantes do queijo eleitoral.

 

Seja como for, não é da nossa conta. Tudo o que os portugueses têm a fazer é esperar pelas eleições e continuar a escolher entre Dupond e Dupont.

 

publicado por Margarida Bentes Penedo às 18:15
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Quarta-feira, 25 de Julho de 2012

A marcha de um líder

 

 

Em 1980 a economia britânica estava em recessão. Os números do desemprego tinham subido para 2 milhões, em relação aos 1,5 milhões no ano anterior. E continuariam a subir até ultrapassar os 3 milhões em 1982, ano em que acabou a recessão. Margaret Thatcher era chefe do governo desde 1979, e a oposição à liberalização da economia gritava por uma "inversão de marcha" (U-Turn). Ted Heath, ex-primeiro-ministro, protagonizava essa oposição dentro do Partido Conservador, que também tinha liderado até 1975 - ano em que perdeu as eleições internas para Margaret Thatcher, tornando-se um dos seus críticos mais activos.

 

No dia 10 de Outubro de 1980, durante o Congresso do Partido Conservador, Margaret Thatcher fez um discurso longo. E respondendo aos seus opositores, disse:

 

"To those waiting with bated breath for that favourite media catchfrase, the "U turn", I have only one thing to say: You turn if you want to. The lady's not for turning. I say that not only to you, but to our friends overseas as well, and also to those who are not our friends."

 

A frase "The lady's not for turning" passou a designar o discurso completo. E tornou-se um dos lemas mais conhecidos de Margaret Thatcher, que se manteve à frente do governo até 1990.

 

No passado dia 23, o Primeiro-Ministro reuniu-se com os deputados do PSD. Além destes, estavam presentes alguns ministros, a presidente da Assembleia da República, e mais uns quantos figurões do PSD.

 

Considerando que havia quem sugerisse que "já chega de ser bom aluno" e de "fazer sacrifícios" porque se aproximam actos eleitorais e não convém perder votos, Pedro Passos Coelho disse aos presentes que "a verdade é que nenhum dos senhores ou das senhoras foi eleito para esse mandato". E que "nenhum dos que aqui estão foi eleito para ganhar as próximas eleições, ou para ajudar a ganhar autárquicas, nem as regionais deste ano nos Açores, nem as europeias que aí vêm a seguir, não foi para isso que fomos eleitos. Foi para responder ao país."

 

Foi simples, foi directo e tem toda a razão: os deputados não são eleitos para voltar a ganhar eleições. São eleitos para fazer o que tem de ser feito pelo país. Quando a presente maioria foi eleita, sabia-se da situação trágica em que que o país se encontrava, sabia-se que era necessário pôr ordem nas contas, e era conhecido o programa da troika. E toda a gente sabia, porque foi afirmado repetidamente durante o período eleitoral, que o governo concordava com o programa e tencionava cumpri-lo até ao fim.

 

Para que não ficasse qualquer dúvida, Pedro Passos Coelho esclareceu ainda que "se algum dia tiver de perder umas eleições em Portugal para salvar o país, como se diz, que se lixem as eleições, o que interessa é Portugal".

 

Ou seja, não basta pôr ordem nas contas. Para isso, é necessário pôr o PSD na ordem, e foi isso que o Primeiro-Ministro se mostrou na disposição de fazer. Para bem do país e para grande surpresa minha.

 

publicado por Margarida Bentes Penedo às 16:35
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