Do blog de Grillo.
A Itália está neste momento numa ebulição profunda. Matteo Renzi, está a sacudir o sistema de um modo, que suponho apenas tem precedente italiano, no impacto que Berlusconi obteve quando da sua apresentação 20 anos atrás.
Renzi conseguiu uma primeira grande vitória ao substituir a lei eleitoral, inconstitucional, em vigor há 10 anos, e que sucessivos governos anunciaram tentar mudar, sem sucesso. Em apenas 15 dias, Renzi, fê-lo contra muitos desinteressados do seu partido.
Para os economistas ou curiosos, acima na imagem, o impacto estimado das propostas de Renzi no PIB italiano.
A sua proposta é de risco. Ele próprio, diz que ou consegue, ou desaparece da vida pública, de vez.
Para já, quer reduzir IRS e IRC em 10 mil milhões de euros, e em 3 anos reduzir a despesa pública em 32 mil milhões que afectarão fortemente o estado social.
A resistência dos sectores aparelhistas do próprio partido, o PD, é tremenda e querem fazer cair Renzi a todo o custo. O povo, sem sondagens, por enquanto, parece apoiar Renzi, e vê-lo como a última esperança antes que "rebente" o euro para a Itália.
É uma situação muito séria, com potenciais e enormes consequências para a União Monetária.
Matteo Renzi, o novo, novíssimo recordista, o mais novo primeiro-ministro italiano, vai tentar a quadratura da Itália. E, segundo afirma, vai tentá-lo contra o que tem sido feito, até agora, nos países em dificuldades. Como? Em vez de aumentar impostos, pois a Itália já tem a mais alta taxação da Europa, vai reduzi-los. Onde? Primeiro nos custos das empresas, depois no IRS local, o IRPEF, e nas contribuições para a segurança social. O corte na despesa do estado deverá compensar a redução imediata das receitas. Espera, que o reanimar da economia, proporcione o aumento das entradas. Uma receita muito diferente da que foi seguida em Portugal, com alguma semelhança à da Irlanda (que recusou subir o IRC).
Renzi, esteve uma hora e meia ao telefone com Merkel e terá tentado fazer passar o plano. Pensa-se que o tenha conseguido fazer. A Itália ainda tem muita força e o seu peso no futuro do euro, depois de tudo já ter sido tentado, pelos governos anteriores, desde 2011, justifica mais um esforço. Um último, leram bem, um último esforço, desesperado, será feito.
A Itália, para depois de Renzi, não tem alternativas de liderança à vista.
Irei dando notícias.
Matteo Renzi e as suas hostes do Partido Democrático querem substituir imediatamente o governo de Enrico Letta do... Partido Democrático.
Letta está no poder desde 29 de Abril de 2013, numa coligação com o centro-direita, e a extrema esquerda, que pelo que dizem os opositores pouco, ou nada, tem conseguido fazer.
A Itália está neste momento num default interno com origem no próprio estado que tem de dívidas a fornecedores, por pagar, cerca de 4% do PIB, com um prazo médio de pagamento de 170 dias. A dívida pública está acima de 133% do PIB e, apesar de existir um saldo primário positivo, na admistração pública, graças a uma pressão fiscal recorde de 54% do rendimento nacional total, não consegue reduzir a dívida. O serviço da dívida custa em juros anuais, o dobro do saldo primário positivo.
Reformas estruturais feitas desde 2008? Zero. A despesa pública mantém-se acima dos 50% do PIB.
A verdadeira definição de insustentabilidade. Percebe-se a urgência de Renzi, mas a realidade tem muita força e a italiana é especialmente complexa e difícil de mudar.
Ontem, três milhõs de italianos, esperaram horas ao frio, para poderem votar nas primárias abertas a todos, do Partido Democrático.
Escolheram por uma ampla maioria de quase 70%, como secretário-geral, Matteo Renzi, jovem de 38 anos, que ganhou a direcção do maior partido italiano, contra a vontade da maior parte do aparelho desse mesmo partido.
Renzi, pesca votos à esquerda e direita. Tem um discurso que fala ao coração das gentes, empolga, e na sua alocução de vitória, disse por exemplo:
"Vivemos no país mais belo do mundo, e temos a pior classe dirigente do mundo"
"Este não é o fim da esquerda, mas do seu grupo dirigente".
- Quer mandá-los para a "sucata".
Como na semana passada foi declarada a inconstitucionalidade da lei eleitoral italiana, de imediato não se poderá fazer eleições legislativas (o PD tem a maioria na coligação de governo) e a negociação para elaboração de uma nova, começará rapidamente por iniciativa de Renzi. Será um processo interessante de seguir, pois todos os partidos sabem que se se fizer uma lei equilibrada, Renzi, provavelmente, ganhará por maioria as próximas eleições.
O governo de Letta fica por um fio, dependente dos novos rumos que a nova direcção do PD tentará determinar. Um grupo de jovens, no país com a gerontocracia mais detestável da Europa.
Renzi, terá de lutar tremendamente para se conseguir impôr a uma classe dirigente que tem o estado, o poder regional e o poder autárquico nas mãos.
Acendeu-se uma luz de esperança para a Itália. Berlusconi e Grillo, tremem.
Duas datas próximas muito importantes para a Itália:
27/11/2013 - O senado vota a "decadenza" de Berlusconi que marcará o fim da imunidade parlamentar e o início de cumprimento de pena do senhor. De seguida irá cumprir serviço cívico e fala-se por aqui que os serviços sociais lhe darão muitas fraldas de pessoas idosas para trocar. Haverá destinos piores.
08/12/2013 - O Partido Democrático vota em primárias abertas a todos os cidadãos a eleição do próximo secretário-geral e candidato a primeiro-ministro. Na linha está Matteo Renzi, a esperança que se segue para revolucionar a Itália (uma improbabilidade no país mais conservador do mundo ocidental, mas a única esperança).
De resto a vida política segue igual a sempre: discussões eternas, guerras intestinas e zero de avanço nas reformas de estado. Todos à espera de Godot, ou seja, de Matteo Renzi. Veremos se chega.
O Gremlin dará notícias.
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