O caminho para o socialismo na Saúde tem doze passos:
1. Começa-se com hospitais com gestão privada que oferecem aos utentes do SNS cuidados melhores e a custo mais baixo para os contribuintes que os de gestão pública.
2. Deixam-se, com reduções de horas trabalhadas que provocam faltas de pessoal e cativações que não permitem comprar consumíveis nem manter os equipamentos a funcionar, os utentes dos hospitas públicos ao abandono.
3. É-se apanhado a aldrabar listas de espera para consultas e cirurgias com consequências mortais para os doentes cujos cuidados foram adiados que morreram à espera de os receber.
4. A culpa é do Passos.
5. Quer-se fazer cumprir o preceito ideológico que diz que todos os estabelecimentos do SNS devem ter gestão pública.
6. Mas os que têm gestão pública funcionam mal, e pior que os que têm gestão privada.
7. Monta-se uma manobra de divisão.
8. Revela-se ao país com justa indignação que os hospitais geridos por PPP internam doentes nos refeitórios e nas casas de banho.
9. Anuncia-se a não renovação dos contratos de gestão dos hospitais com PPP, os malandros que metem os doentes nos refeitórios e casas de banho.
10. Faz-se, para aproveitar a maioria circunstancial de esquerda, uma lei que obrigue as futuras maiorias para todo o sempre, baptizando com o nome de Lei de Bases da Saúde, e com este nome blindando-a contra futuras mudanças de ideias.
11. Para o Marcelo não chatear, que ele ameaça mas depois amansa facilmente, e para alimentar alguma ilusão de variedade na oferta eleitoral da esquerda e, com ela, alargar o mercado a todos os segmentos, os que querem PPP e os que não querem PPP, deixa-se cair a proibição de PPP para todo o sempre, mas previne-se que só em casos excepcionais é que poderá voltar a haver.
12. Em Outubro, se até lá não houver catástrofes naturais, os combóios, o metro e os cacilheiros ainda não tiverem todos parado ou afundado, e a justiça for suficientemente lenta a investigar crimes e teias de corrupção para ainda haver socialistas em liberdade, ganham-se as eleições.
Mission acomplished, e os doentes que se f.
Depois de terem sido abandonados à sua sorte durante toda a legislatura por um governo que se dedicou a demoli-lo trocando o serviço aos utentes pela redução dos horários dos funcionários, a ministra da Saúde, que eu tenho apelidado, talvez não lhe conseguindo por defeito fazer justiça, de tonta fala-barato da extrema-esquerda, anunciou que até ao fim do ano de 2019, por coincidência um ano em que há duas eleições, todos os doentes à espera de consulta ou cirurgia há mais de um ano vão ser atendidos.
O que significa que não garante atendimento até ao fim de Dezembro aos que estão à espera há quase um ano, e que então estarão à espera há 21 meses.
Em Portugal morrem em média 7 doentes por dia à espera de consulta ou cirurgia. Quantos é que ela está a condenar à morte? É só fazer as contas. Mas passa dos 4 mil. Isto em ano de várias eleições. Agora imaginem em 2020, 2021 e 2022...
Dando cumprimento à legislação que entra agora em vigor, os maços de tabaco serão vendidos com imagens terríveis para dissuadir as pessoas de continuar a fumar. Veja o que lhe pode acontecer:
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* O maço de Marlboro é de autor desconhecido; foi encontrado no facebook.
Deixa ver se percebo: a Sanofi deixou de produzir o soro "devido aos preços dos produtos concorrentes fabricados na Ásia, América Latina e África, e com os quais a Sanofi Pasteur não pode alinhar".
É a sina de muitos: não podem competir porque, para qualidade igual, o consumidor escolhe artigos oriundos de lugares onde os custos de produção são mais baixos. Mas neste caso parece que não - os doentes são teimosos e preferem morrer. É o que diz a Organização Médicos Sem Fronteiras, afirmando esperar que o laboratório "ponha à disposição as substâncias de base necessárias à produção do Fav-África" e encontre "uma capacidade de produção para aperfeiçoar este produto antiveneno que possa, a prazo, substituir o Fav-África".
Portanto, o produtor do Fav-África, que é a Sanofi, deve disponibilizar à sua concorrência "as substâncias" e, depois de o ter feito, investir na criação de um produto que faça concorrência aos seus concorrentes e a si mesma.
Temos portanto a lógica clássica e as suas complementares (modal, epistémica, etc. - está tudo aqui) - dessas tinha uma ideia. E temos também a lógica difusa, mais conhecida como fuzzy.
Não sabia o que era. Agora sei.
Sempre suspeitei que o cartão de cidadão, com a possibilidade de armazenar dados, e os seus três ou quatro pins que é preciso memorizar, era uma pedra na tumba das liberdades; e que seria apenas uma questão de tempo até que um dos controleiros que pululam no governo e fora dele - a falta de respeito pela liberdade é, na esquerda, um dado adquirido em nome da igualdade e, na direita, quando ocorre, em nome da segurança, da eficiência, da ignorância ou da inconsciência - começasse a tirar partido do mundo de possibilidades que a informática oferece.
Aí está. E em vez de se ver a iniciativa por aquilo que é, um perigoso passo para amanhã se começarem a tratar dados e com base neles se imiscuírem Savonarolas da saúde pública, como o Secretário Leal, na relação médico-doente, ensinando uns a prescrever e outros a adoptar os comportamentos que as autoridades acham recomendável, censura-se os médicos porque - ó escândalo! - apenas metade "tem Cartão do Cidadão ou da sua Ordem".
Um imbecil que preside a um organismo que responde ao nome de Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) declarou que "um médico do Serviço Nacional de Saúde (SNS) sem Cartão do Cidadão é uma vergonha", em "sessão de esclarecimento".
Vergonha é haver funcionários que se permitem "esclarecer" os cidadãos que os sustentam com os seus impostos sobre o que é melhor para eles; e que não hesitam em considerar que os médicos deveriam sentir "vergonha" por não terem a merda do cartãozinho que o burocrata acha importante.
Já hoje as autoridades fiscais acham que o cidadão tem que ter um endereço de e-mail e uma conta bancária, o primeiro para comunicarem directamente as suas importantes opiniões e decisões, a segunda para devolverem o que não deveriam ter cobrado e, eventualmente, juntar à pilhagem dos próprios bancos a do Estado. E é claro que todos temos que ter uma ligação à Internet, e tirar cursos de formação, se tivermos menos de 65 anos, para navegar no mar de declarações que os nossos extremosos patrões nos exigem, para nosso benefício.
O regime fascista exigia que não nos metêssemos na política ou que, se o fizéssemos, tivéssemos a elementar prudência de o fazer do lado dele. Afora isso, deixava-nos em paz. Possivelmente, porque não tinha meios informáticos.
Lembro-me bem: aconteceu-me várias vezes, naquele ano fatídico, conviver com pessoas afogueadas, em circunstâncias que não justificavam acaloramentos, e de as ouvir dizer, com voz cava: morro de calor! - após o que, chamado o 112, se constatava o óbito.
Ignorava até agora este plano para temperaturas extremas, mas não duvidaria que, a existir, estivesse muitíssimo bem elaborado: deveria ter natureza interministerial, estrelado também com a participação da Ordem dos Médicos, da dos Enfermeiros, Serviço Nacional dos Bombeiros e institutos e observatórios vários das áreas meteorológica, sanitária e gerontológica. Tudo vertido num extenso e bem elaborado documento, atentamente discutido pelos intervenientes e destinado à leitura de profissionais, bem como outros cidadãos interessados e curiosos, logo que tivessem vagar.
Fui ver, na parte módulo calor 2013, e a primeira impressão não foi muito positiva: três funcionários apenas dão uma aulinha sobre a vulgata do aquecimento global, os efeitos do calor no bem-estar e na saúde e os cuidados que os cidadãos devem ter, em particular quanto à ingestão de líquidos (esta última parte sem qualquer referência ao vinho verde e à cerveja, uma omissão difícil de aceitar com equanimidade). Felizmente, a fig. 3 na página 6 revela a organização e articulação institucional para, no dizer inspirado dos autores, promover a "operacionalização" que "requer uma estrutura que rentabilize esforços, desenvolvendo e reforçando parcerias".
Operacionalizar e reforçar parcerias já é mais o género de coisa que deve dizer um relatório a sério. E como na tal figura são 13 os organismos envolvidos, fora a Coordenação Geral e a Co-Coordenação, e agora vai tudo ser averiguado, podemos este Verão estar certos que poderá haver um aumento de falecimentos por via de esgotamento fiscal e ataques de fúria assassina contra a estupidez contumaz, mas por calor não.
Sabemos que um arrumador de carros é modernamente, na realidade, um técnico de parqueamento automóvel; um agente técnico de engenharia foi há muito promovido a engenheiro técnico, e logo depois a engenheiro tout court, enquanto as especialidades se multiplicaram a tal ponto que o cidadão prevenido não ficaria excessivamente surpreendido se uma qualquer universidade lançasse os cursos de Engenharia Em Candeeiros Articulados, de Direito de Família no ramo Casamentos com Potencial para Acabar Mal, ou de História dos Carros de Combate dos Hititas; o grau de licenciatura, para cuja obtenção eram necessários normalmente cinco anos, contenta-se agora com três; e a antiga licenciatura transmutou-se em mestrado.
O doutoramento, por sua vez, corre graves riscos de vir a ser outorgado em concurso, em alternativa ao automóvel de marca Audi com que as autoridades aliciam os cidadãos para servirem de fiscais da Fazenda.
Fica toda a gente contente: as universidades vendem o diplomazinho; os moços, armados do papel, vão para o call-center, a caixa do supermercado, a emigração e a manifestação, frustrados e cheios de auto-compaixão, mas com grande amor-próprio; os pais, que esportularam as propinas, estadias, borracheiras nas praxes e queimas das fitas, rebentam de orgulho; os liberais confiam que o mercado, no meio de tanto licenciado, fará escolhas inteligentes; a esquerda em geral louva a democratização do “conhecimento”, que mede pela quantidade de graus que as escolas, e os professores, são induzidos a atribuir; e o Estado lava as mãos.
Para um país cuja doutorice foi tão justamente verberada, pode dizer-se que se deram passos de gigante: um destes dias, com a vulgarização do trato, importada da América, o título de deferência passará a ser "Senhor" ou "minha Senhora".
Seja. Mas em relação a profissões liberais clássicas, gente prudente e reaccionária, como eu, conta com as Ordens. Eu sei: são emanações corporativas e os obstáculos que colocam à entrada no exercício da profissão, em nome da qualidade da formação, destinam-se a proteger os que estão. E de deontologia não falemos, que quem circula nos associativismos de todo o tipo distingue-se com frequência pela especialidade nas artes da moscambilha e do tráfico de influências. Mas se o Estado não garante nada; se o mercado funciona mal, porque nem sempre é possível conhecer o historial do licenciado que temos diante de nós: vamo-nos agarrar a quem, para ver o selo de garantia?
E quanto a profissões que foram promovidas a liberais à boleia de licenciaturas, que originaram Ordens, como a de enfermeiro?
Eu julgava que um enfermeiro enfermeirava e, em casos mais complicados, seguia as ordens do médico. Se tem Ordem, segue ordens como? A Ordem não tardará, se o não fez ainda, em pôr-se em bicos de pés e reivindicar autonomia para o enfermeiro: ai o médico quer que lhe ponha sinapismos? Ele não sabe nada, vou-lhe mas é lancetar esta merda.
E não é que vamos ter enfermeiros de família?
Estou por tudo. E como a Justiça evidentemente não funciona, é urgente a criação da Ordem dos Oficiais de Diligências - se é que ainda não existe.
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