Dando cumprimento à legislação que entra agora em vigor, os maços de tabaco serão vendidos com imagens terríveis para dissuadir as pessoas de continuar a fumar. Veja o que lhe pode acontecer:
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* O maço de Marlboro é de autor desconhecido; foi encontrado no facebook.
Detesto tanto este tipo, mas tanto, que se houver, nas próximas eleições, qualquer sugestão de que venha a fazer parte do governo, ou, por maioria de razão, se figurar em qualquer lista, vou à praia ou trabalhar no meu quintal. A menos que se mude para o PS, que era onde estaria melhor.
Que diz o Savonarola desta vez? Diz isto: "Fernando Leal da Costa não esconde a vontade de proibir totalmente o fumo em espaços públicos, mas reconhece que é necessário dar alguns anos, para que restaurantes e cafés que fizeram investimentos para criar espaços para fumadores possam adaptar-se a essa realidade".
Ó Fernando do catano, de onde te vem a legitimidade para decidires o que cada proprietário de restaurante pode estabelecer como orientação da sua casa? Já, com a alegre companhia dos teus colegas médicos, e, suponho, da maioria da população, fizeste passar a ideia de que o apartheid americano, e por imitação do resto do Mundo, entre gente pura, de um lado, e viciados, do outro, era uma boa razão para decidires investimentos compulsivos de terceiros. E agora, meu aldrabão, que se gastaram milhões para sossegar as tuas manias, e as das pessoas que não suportam o cheiro do tabaco mas cheiram elas próprias a chulé, não te chega - há que deitar fora o investimento feito, que era só para moderninho e a ASAE verem.
Depois, esse paleio equívoco de dizeres "público" e a seguir falares de restaurantes sabe-se ao que conduz: amanhã não são os restaurantes, são também as esplanadas, os jardins, as praias, qualquer sítio que seja público e onde o teu sensível e proeminente nariz detete algum remoto cheiro do vício indesculpável. E a seguir vêm as casas privadas, não vá haver dentro delas um fumador passivo que precise do cavaleiro andante do fascismo sanitário.
Sabes que mais, Leal? Se eu fosse um proibicionista e tivesse poder, ilegalizava foguetes e caras feias, por me fazerem, respectivamente, mal aos ouvidos e aos olhos. E não poderias circular, nem os meus vizinhos atroarem os ares por ocasião da festa de Santo António, na Rua da Arcela.
Mas não, deixo os vizinhos em paz; e circula à vontade, que não farei mais do que mudar de passeio se te vislumbrar o focinho repelente.
No início de Fevereiro, contei como fui impedido de fumar uma caneta. A história teve seguimento. No dia 18 de Março, recebi da TAP, por email, a seguinte informação:
"Exmo. Senhor José Graça,
Fazemos referência ao comentário de bordo que preencheu por ocasião da sua viagem entre Lisboa e Praga no voo TP532 do dia 14 de Abril, a cujo conteúdo dedicámos a nossa melhor atenção.
Agradecemos o facto de nos ter comunicado as suas observações e apresentamos o nosso pedido de desculpas pelos possíveis transtornos que tal situação lhe possa ter causado, pois a opinião dos nossos Clientes é fundamental para a aferição da qualidade de serviço que pretendemos disponibilizar, a todos os níveis.
Apesar de os cigarros electrónicos não serem proibidos por lei, o seu uso a bordo pode causar problemas e o seu consumo não é permitido a bordo dos aviões da TAP. No entanto, podem ser transportados na bagagem de mão. Para mais informações poderá consultar o site da TAP, www.flytap.pt, através do link: http://www.flytap.com/Portugal/pt/planear-reservar/preparar-viagem/bagagem/bagagem-proibida.
Mais informamos que na TAP Portugal é proibida a utilização do cigarro electrónico por razões de segurança. É um dispositivo que poderá induzir em erro outros passageiros e levar à utilização indevida do consumo de tabaco. Como alternativa, existem pastilhas de nicotina que poderão ser solicitadas à tripulação.
Uma vez que um dos nossos mais importantes objectivos consiste em satisfazer, ou mesmo antecipar, as expectativas dos nossos Passageiros, solicitamos-lhe que não hesite em contactar-nos noutras situações.
Esperando que um próximo voo com a TAP Portugal venha a ser totalmente satisfatório, aproveitamos esta ocasião para lhe apresentar os nossos melhores cumprimentos.
Tânia Chuvas*"
Primeiro respondi:
"Exma. Senhora Tânia Chuvas*,
Acuso a recepção do e-mail de V. Exª de 18 de Março corrente.
Diz V. Exª que "Apesar de os cigarros electrónicos não serem proibidos por lei, o seu uso a bordo pode causar problemas e o seu consumo não é permitido a bordo dos aviões da TAP". Esta afirmação é extraordinária: mudei para os "cigarros electrónicos" a sugestão de um passageiro frequente de várias companhias aéreas que, por causa da proibição do fumo nos aviões e a conselho do pessoal de bordo da KLM, recorreu a esse expediente. Passageiro, aliás, que viajou recentemente na TAP, de Copenhague para Lisboa, "fumando" alegremente sem ser incomodado.
A asneira, infelizmente, também não é proibida por lei, pelo que ocorre lamentar que a TAP não corrija o descuido do legislador, proibindo-se a si mesma de abundar nos dislates. Como abaixo se verá:
Diz V. Exª que "na TAP Portugal é proibida a utilização do cigarro electrónico por razões de segurança. É um dispositivo que poderá induzir em erro outros passageiros e levar à utilização indevida do consumo de tabaco. Como alternativa, existem pastilhas de nicotina que poderão ser solicitadas à tripulação". O cigarro em questão liberta apenas vapor de água, que se dissipa imediatamente em razão da extrema secura do ar ambiente; não se parece com um cigarro, antes com uma esferográfica, pelo que o único comportamento que pode induzir nos outros passageiros é um desejo irreprimível de escrever artigos de jornal, novelas, ou listagens de proibições da TAP, estas nos voos mais longos.
Sobram duas perguntas: De onde vem a legitimidade da TAP para proibir comportamentos que não ofendem nem a lei nem o senso? E donde provém a autoridade para declarar com naturalidade que os clientes (melhor: contribuintes) da TAP são uma colecção de crianças inimputáveis que, se a TAP não velar por elas, imediatamente desatam a macaquear o vizinho do lado?
Finalmente, V. Exª assina com nome, mas invoca normas da TAP que alguém aprovou. Seria possível informar-me dos respectivos nomes? Não é para satisfazer uma curiosidade indevida; é para lhes manifestar a minha opinião, preto no branco, sobre as respectivas capacidades cognitivas e comerciais.
José Meireles Graça"
A seguir fui jantar.
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* Rebaptizada por mim
De regresso ao terrunho, num voo de três horas, vou de quando em vez aspirando a minha caneta electrónica. Chamo-lhe assim, e não cigarro electrónico, porque não acende uma luzinha a fingir a brasa do cigarro, tem um depósito onde está a mistura com nicotina (escolha minha, pode não ter) e parece uma caneta.
As aeromoças (agora, no geral, aerobalzaquianas) ignoram-me, como é normal. Excepto uma, já a viagem adiantada, que me aborda para dizer que tinha reparado no "fumo", ao passar, e que não é permitido fumar. Significo-lhe que não é "fumo", mas sim vapor de água. Para exemplificar, tiro uma baforada, que rapidamente se dissipa - dentro dos aviões o ar é, parece-me, seco.
A cordata mas firme senhora insiste, esclarecendo que o pessoal tinha instruções da TAP Portugal para proibir o uso daqueles instrumentos.
Respondi que, salvo melhor opinião, a TAP não tem competência para proibir comportamentos que não sejam perigosos nem afectem ou incomodem terceiros, ao que a senhora retorquiu que poderia apresentar reclamação, existindo um impresso para o efeito.
Preenchi a papeleta, onde contei esta história. Conto com três reacções possíveis, por ordem decrescente de probabilidade: Não respondem; invocam uma disposição qualquer da UE, da IATA ou doutro organismo metediço; argumentam especiosamente a defender a bondade da "proibição".
Tentarei, quando tiver que voltar a usar a TAP, ser mais discreto. E creio que terei no futuro que preencher umas quantas papeletas. Escrever não é para mim grande sacrifício; aturar palermices sim.
“As pessoas têm de entender que, aos tiros e a meter gente na prisão, a única coisa que estamos a fazer é a oferecer um mercado de narcotráfico”, argumentou José Mujica.
Não sabia quem era José Mujica. Fui ver. Não fiquei exactamente encantado: Mesmo concordando - e concordo - com a declaração, e reconhecendo que o homem tem um aspecto simpático de avô bem-disposto, e um estilo de vida que não invejo mas se impõe à admiração, suponho que teria outro peso se proferida por quem não carregasse um passado tão sombrio.
Depois, a afirmação que fez de que "não se vota uma lei porque tenho maioria no Parlamento. A maioria tem de acontecer nas ruas” - gela o sangue: só se sabe o que pensa a rua em eleições livres. Sem eleições livres, não se sabe senão o que pensa a parte da rua barulhenta e festiva, que é uma pequena parte. E, sendo isto assim, a legitimidade do Parlamento não tem que pedir meças à da opinião que desfila aos gritos, espontânea ou não.
Mas noutra parte do texto diz-se que "uma sondagem recente apontava que 64 por cento da população discordava da legalização". E, a ser fidedigna a sondagem, também aqui tem razão o original Presidente: a bem da segurança jurídica e da estabilidade das instituições, não se pode ter um direito criminal yo-yo, que hoje é assim e amanhã é assado.
Quer dizer que, nos sítios mais inesperados, o edifício bem pensante da criminalização da produção, tráfico e consumo de droga, começa a ruir. E tempos virão em que o realismo e a impotência forçarão os poderes públicos a preocuparem-se menos com um consumo que não podem erradicar, e mais com a criminalidade que lhe está associada e que, essa sim, pode ser inteligentemente combatida.
Mas - curioso mundo, este! - do mesmo passo que aqui e ali o senso vai fazendo o seu caminho para se tornar comum, também aqui e ali se vão criando condições para o contrabando, a clandestinidade, o policiamento e a corrupção.
A Lei Seca finou-se há muito. A mentalidade que lhe subjazia está aí, pujante. Se fosse cínico, diria que quanto mais tudo muda mais parece na mesma.
Do cardápio de medidas ontem anunciadas, a do aumento do imposto sobre o tabaco recolhe, segundo percebi, grande consenso: parece que a receita do imposto, que tem vindo a cair, vai crescer, apesar da previsão de nova diminuição do consumo. Para já não falar da melhoria do estado geral da saúde da população e da qualidade do ar - só benefícios.
O meu soi-disant representante, o vaselínico patrão da CIP, é que teve a luminosa ideia, acolhida pelo Governo com fervor e pela opinião pública com apauso.
De contrabando não ouvi falar: há pouco disso, e os contrabandistas, como é geralmente sabido, não estão ao corrente dos esforços do Governo para lhes subsidiar a actividade.
Os viciados irrecuperáveis, uma malta de todo o modo desprezível, terão que passar a fumar mais, para garantirem a receita; e por isso não terão o privilégio de morrer de fome com as pensões de reforma que não vai haver, visto que este exagero de consumo lhes vai previsivelmente encurtar a vida.
Ave anser, morituri te salutant.
Gente ingénua acredita que as campanhas anti-tabágicas, as proibições, as coimas, têm que ver com a defesa do direito dos não-fumadores a não serem fumadores passivos.
E os próprios não-fumadores acreditam que, se por momentos sentirem nas narinas o horrível aroma inconfundível do tabaco, a palpitação que imediatamente os aflige é já o prenúncio do cancro no pulmão que, infalivelmente, os vai abater dali a uns anos.
Estas crenças nasceram nos Estados Unidos, acompanhadas dos devidos estudos "científicos" - a moda dos wacko studies é uma criação local, mais genuína aliás do que as aculturações, que consistem em pegar numa tradição qualquer estrangeira, retirar-lhe o gosto e o requinte, se o tiverem, e acrescentar-lhe a marca do rebotalho local. Daí que seja normal o Presidente deixar-se fotografar vestido de cow-boy e com os pés em cima da secretária - a grosseria fica automaticamente promovida a autenticidade. O Povo gosta, exactamente como gosta de junk-food e pelas mesmas razões porque ainda hoje não sabe usar em simultâneo o garfo e a faca.
Infelizmente, naquela terra onde se incrustou a moda dos bonés com a pala a proteger o pescoço - a ver se o cidadão, no caso de não ser negro, se tisna de modo a ficar com aspecto de garnizé - existe uma tradição puritana. E essa tradição, que a modernidade oficialmente nega, manifesta-se na obsessão com o sexo, o crime e o castigo, e a repressão dos vícios.
Daí que a defesa dos direitos dos não-fumadores nunca tivesse sido, nem seja, mais do que a desculpa bem-pensante para impôr a virtude do corpo são, a ver se a alma também fica - sã.
Não acreditam? Pois leiam. Fernando Leal da Costa, esse, já deve ter lido, e no original, que o homem é Americano avonde.
Imagine que lhe entra pela porta dentro uma dupla de frades, brandindo ao alto o bastão de Esculápio, um com cara de quem acabou de cheirar merda e o outro sofrendo de alopecia e com o olho reluzente de indignação justiceira. Medieval, não?
Pois bem: esta dupla, aggiornata, quer vir dentro do meu carro certificar-se, sob pena de multa, de que trato bem as minhas netas.
O carro é meu, as netas são minhas, e se se abrir a porta a que o Estado meta o nariz dentro da propriedade das pessoas para ver como tratam a descendência, é lícito perguntar onde, exactamente onde, é que está o limite: porque se não se pode fumar dentro do carro, mesmo com o tecto aberto, também não se pode fumar em casa onde haja crianças - e vá de ir lá espreitar pela janela, se for um rés-do-chão, ou bater (arrombar?) à porta se for um andar; e vá de investigar denúncias de vizinhos maldosos e enxeridos; e vá de checar também a alimentação - muitos chocolatinhos, smarties e junk food, é?; e, já agora, a ginásticazinha, têm feito ginásticazinha os meninos?
Estamos no domínio do abuso, da iniquidade e dos pequenos passos insidiosos para a construção do novo homem, perfeito por prescrição médica e inspecção aleatória, sob a cominação de sanções. Isto só é diferente do totalitarismo comunista no grau e no objectivo: quer-se o homem sem vícios, educado de pequenino, num caso; e no outro a formiga obreira exactamente igual às outras. Agora a golpes de multas e censura social, dantes pelo método mais expedito dos gulags, sempre o mesmo essencial desprezo pela liberdade, que ou é a da diferença ou não é liberdade.
Frade Paulo, esquece: Já me puseste a tratar-te mal, entrando-me com suficiência, superioridade e ameaçadoramente em casa, para a qual não te convidei. Logo eu, que até simpatizava contigo por seres economicista, que é o que todos os ministros também deviam ser. Deixa lá as maluqueiras do teu adjunto, manda-o antes fazer obra útil e fechar a matraca do discurso santarrão. Se fores ver, às tantas tem vícios ocultos - acontece muito a quem anda por aí a verberar os dos outros.
E vê-me mas é essa coisa da sustentabilidade do SNS, onde já tens inimigos que chegue.
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