Não tenhamos dúvidas que na raiz do movimento #MeToo estão situações de violência reais que não foram denunciadas em devido tempo por a denúncia acarretar para as vítimas um custo demasiado elevado para a reparação que lhes poderia ter proporcionado.
Mas as exigências de prova que a metodologia de denunciar um abuso sexual sem testemunhas ocorrido há tempo suficiente para eliminar qualquer possibilidade de ser investigado de modo a esclarecer se a denúncia é verdadeira ou falsa, que são nenhumas, só poderiam conduzir aonde conduziram: uma situação em que qualquer mulher mal intencionada pode denunciar qualquer homem que, pelo menos, tenha estado a sós com ela nalguma ocasião no passado de a ter assediado ou cometido um abuso sexual sobre ela, quer tenham tido qualquer tipo de contacto físico, quer não, quer qualquer eventual contacto físico tenha sido consentido, quer não, mesmo que a não ter sido consentido tivesse sido ele, e não ela, a vítima do abuso.
Isto não é um problema específico dos abusos sexuais, é um problema genérico de todos os crimes que são cometidos na intimidade e que só podem ser avaliados com base em provas testemunhais, que podem ser fantasiadas, quer por parte de quem acusa, quer pela de quem se defende. Não é um problema simples de resolver, e eu não sei como deveria ser resolvido, mas é um problema real.
E isto é um risco real que correm todos os homens que ficam a sós com uma mulher em qualquer circunstância, em qualquer lugar, do elevador do prédio ao gabinete de trabalho ou sala de reuniões. Se a mulher for desonesta e o quiser fazer, pode inventar uma denúncia de assédio ou mesmo de abuso sexual que ela poderá não conseguir provar mas que ele muito dificilmente terá possibilidade de provar ser falsa. No máximo poderá ser condenado em tribunal por abuso sexual com base no testemunho da queixosa, no mínimo a reputação do acusado é condenada à morte.
E a generalização de queixas de antigos atentados atentados à autodeterminação sexual das vítimas que constitui hoje em dia o movimento #MeToo é uma chacina de reputações, algumas que certamente mereciam se expostas, outras que não, outras que pelo contrário.
Wall Street é, apesar de albergar o que há quem pense serem os facínoras mais gananciosos do mundo, ou se calhar por isso mesmo, um local onde tem sido feito algum esforço por promover a ascensão de mais mulheres aos mais altos cargos de gestão das empresas cotadas, o que só demonstra inteligência da parte dos investidores que preferem mais mulheres a gerir as empresas onde arriscam as suas poupanças porque julgam que mais mulheres trarão melhor gestão às empresas e maior valorização dos seus investimentos. A ideologia de Wall Street não é o marxismo cultural, seja lá o que este termo possa designar, é a cultura da maximização do retorno do investimento.
Há fundos de investimento compostos exclusivamente por acções de empresas que têm mais mulheres nos Conselhos de Administração, e em 2017 foi mesmo eregida uma estátua com uma carga simbólica evidente de uma pequena mulher tão frágil quanto poderosa, a "Fearless Girl", a enfrentar o poder dos mercados, o "Charging Bull", que será brevemente mudada para junto da New York Stock Exchange.
Não por razões de ideologia do género, mas porque mais mulheres nos mercados financeiros potenciam melhor gestão e melhores retornos. Até agora.
Agora, para responder aos riscos incontroláveis em situações específicas colocados pelo movimento #MeToo que está "...creating a sense of walking on eggshells...", os Wall Street boys andam a adoptar informalmente regras de prudência como "No more dinners with female colleagues. Don’t sit next to them on flights. Book hotel rooms on different floors. Avoid one-on-one meetings", ou mesmo evitar recrutar mulheres por recrutar alguma se poder transformar num "unknown risk". Ou seja, a segregar as mulheres, tanto no trabalho do dia-a-dia e nos contactos profissionais como até nas oportunidades de emprego.
Por razões muito atendíveis. Por mais propensos ao risco que sejam habitualmente os Wall Street boys, é pior ter um prémio de gestão mais ambicioso por ter mulheres ao lado a contribuirem para melhorar os resultados das empresas mas poder acabar na cadeia do que ter um prémio de gestão mais modesto mas poder gastá-lo em liberdade.
Quem são então as vítimas finais do modo como se desenvolveu o movimento #MeToo? As mulheres. Podem agradecer a quem fez dele aquilo em que ele se tornou.
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