Todas as profissões têm, pese embora o princípio da igualdade plasmado no Artº 13º da Constituição da República Portuguesa, os seus expoentes e os seus membros mais fracos, e a de comentador não escapa a esta infeliz regra.
No Diário do Governo Público de hoje o comentador (do PSD, para as estatísticas destinadas a provar a presença sufocante e a carecer de limpeza urgente do PSD no espaço do comentariado) José Pacheco Pereira publicou um comentário sobre a Operação Marquês com críticas à condução do processo, nomeadamente por fazê-lo crescer de modo exponencial sem produzir acusação em vez de ir levando a tribunal as acusações que já estão solidamente provadas e ir investigando paralelamente as novas suspeitas que vão surgindo, e a riqueza opulente do currículo do arguido propiciará o aparecimento regular de novas suspeitas durante pelo menos as próximas décadas, que genericamente eu sou capaz de subscrever e tenho muitas vezes manifestado a quem me lê.
Para contextualizar a sua opinião sobre o processo que critica, o comentador começa por fazer um breve resumo das qualidades do arquido José Sócrates, focada nas cumplicidades políticas que permitiram a sua ascenção e o exercício das malfeitorias que dedicou a sua passagem pelo poder a fazer. Em quais?
Mas isto são perguntas de retórica, porque todos os leitores já adivinharam que cumplicidades com o Sócrates é que poderiam alguma vez ser denunciadas pelo Pacheco Pereira: a cumplicidade da direita e, especificamente, do PSD.
É preciso ser senhor de um nível superlativo de trafulhice, comparativamente com o qual o Sócrates é um mero menino de coro provinciano para, num relato sucinto do seu percurso de ascenção e queda, só apontar como referência ao papel de outros agentes políticos:
Identificados com a mestria ímpar que lhe é própria os verdadeiros responsáveis pela ascensão e pelas malfeitorias do Sócrates enquanto primeiro-ministro, a direita e o PSD, há que chamar a atenção para o facto de o comentador Pacheco Pereira ser, acumulando com a militância reconhecidamente leal no PSD, uma espécie de comentador avençado do governo do primeiro-ministro António Costa, que simbolicamente o galardoou com a sua primeira nomeação política ao fim de apenas duas semanas de governo para o Conselho de Administração da Fundação de Serralves. O comentário é genial mas não lhe saiu a despropósito nem como um mero acaso. Saiu-lhe com o propósito bem definido de evitar questionar a associação entre o seu amigo, colega de antigas tertúlias televisivas, e padrinho de nomeações António Costa, e toda a máquina de cumplicidades socialista que mantém no terreno e manteve no passado, e o Sócrates que, com o tempo, se transformou num passivo político, e a substituir essa interrogação comprometedora pelo apontar de dedo aos eternos suspeitos nas suas crónicas, a direita e o PSD. Duplamente genial, no conteúdo, e em colocá-lo ao serviço do propósito.
Este comentador é uma p., mas uma p. que f. bem!
PS: Para o caso de andarem por aí esbirros da polícia dos costumes, que não há mas eles gostavam que houvesse, a vasculhar as redes sociais à procura de oportunidade para me colocar um processo em cima por abuso da liberdade de expressão, neste novo tempo socialista a liberdade de expressão é uma excentricidade de que se tende a abusar, esclareço desde já que o título desta publicação significa "Uma pessoa, mas uma pessoa que fala bem".
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