Eu ia começando assim: "Uma das dificuldades de ser brasileiro é que...", mas parei. Um tal começo dava a entender que as dificuldades de ser brasileiro são tão poucas que as podemos pingar assim, de uma em uma, até fazendo ar de pouco caso. Nada mais falso. Ser brasileiro é ser um nababo de dificuldades, é ser um Creso de percalços, um Rotschild de aporrinhações. Se dificuldades fossem colares de pérolas, o brasileiro era um afogado em bolotas. Se empecilhos fossem grãos de areia, a vida do brasileiro era uns tantos Saaras empilhados.
Mas bem: dito isto, digamos sempre que uma das dificuldades de ser brasileiro é explicar aos amigos de Portugal que somos não somente capazes de baptizar um infeliz dum filho de Deus com o nome de DALÍRIO, como ainda fazemos dele um senador. Há de ser por remorso ou por compensação; não consigo pensar noutra razão. A ser assim, já vêem que o senado brasileiro é um grande abrigo de gente aviltada à pia da Igreja, porque agasalha não somente o DALÍRIO como também o LINDBERGH, a GLEISI, o RANDOLFE, o REGUFFE (este foi baptizado num banquete, não faço por menos), um GLADSON, um ROMÁRIO e um SÉRGIO PETECÃO.
Um colunista daqui, o saudoso Ivan Lessa, dizia que a monarquia brasileira foi à breca para evitar que o século XX trouxesse uma princesa chamada Luzimar. Bolas, vede o que a República nos deu! E é nas mãos de gente assim - é nas mãos do PETECÃO, valha-nos Deus - que ora repousa o futuro da República. Porque são eles que decidirão se dona Dilma (esse nome é feio, sim, mas pelo menos é búlgaro) volta ou continua fora. São eles os que, nos debates, trocam frases imortais como "Cala-te, viciado!", "Vai-te ao diabo, mariola!", "A senhora não se esqueça de que eu a tirei da cadeia!", "Ninguém aqui presta! Nem eu!", e outras que fariam Cícero meter a viola no saco. Ou que guardam o silêncio dos justos enquanto mantêm seus navegadores conectados ao sítio do Red Tube.
Quando eu era menino, dizia-se que o Brasil era o país do futuro. Agora estou justamente no meu futuro, e ele é cheio de tipos assim, em cujas mãos repousa o pouco de futuro que me resta. Mas não desanimo: se até a lua tem um futuro, por que o Brasil não teria? Vejamos o que o PETECÃO tem a dizer. Quero dizer, veja lá quem quiser; eu vou gastar umas horinhas do futuro dormindo, que já é noite, e eu afinal tenho um senado para sustentar.
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