Sexta-feira, 3 de Abril de 2015

Parece-me que não perceberam nada.

No dia do enterro do Manoel de Oliveira, confesso a minha irritação com os abundantes dias de luto, a postura de perda irreparável, o instantâneo conhecimento profundo da obra do mestre, o desfile das personalidades enlutadas, o RIP imprescíndivel nas redes sociais.

Manoel de Oliveira viveu mais de um século. Nasceu num meio privilegiado e cedo se começou a destacar em tudo o que fazia. Foi atleta de mérito, corredor de automóveis pioneiro, chegou a fazer uma espécie de circo por prazer pessoal e afirmou-se como o único cineasta português de verdadeira reputação e respeito internacional. Foi amigo de Deneuve e de Piccoli, era repetidamente elogiado por Clint Eastwood, deu-nos a conhecer Luis Miguel Cintra e Leonor Silveira. Nenhum regime conseguiu condicioná-lo. Pôde dar-se ao luxo de nunca deixar a sua cidade. Teve o dom de manter a familia sempre unida em seu redor. Nunca se curvou. Fez-se respeitar com a simplicidade dos príncipes. Teve a arte e o engenho de ter feito o quis toda a vida, fazê-lo de modo superior e ter o retorno do justo conhecimento. Por fim, teve a suprema felicidade, de nesta idade incrível, ter tido ao seu lado, até ao último dia, a mulher que amava.

Luto? Pesar? Peço desculpa, mas não me consigo lembrar de maior celebração da vida. O país devia estar em festa, o Porto devia estar engalanado a comemorar a vida de Manoel de Oliveira. Não há muitas assim.

 

publicado por Raul Almeida às 13:55
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Segunda-feira, 12 de Janeiro de 2015

Je ne suis pas.

 

Jorge Sampaio reemergiu estes dias com o papelinho do Je suis. Confesso que cada vez que vejo a figura fico mal disposto. Não me sai da cabeça o seu percurso e onde nos trouxe a influência que teve na sociedade portuguesa.

O mesmo homem que à frente do MES nos idos de 75 defendia que não devia haver eleições livres porque o povo, esse grande e perigoso ignorante, não estaria preparado para votar "livremente" na consolidação da via socialista desejável para Portugal. Segundo a luminária, havia que esperar por tempo indefinido, "educar o povo" e só depois, quando o povo fosse garantidamente votar onde era conveniente, teriamos então eleições "livres"!

Entretanto, derrotado pelas eleições que não quis, foi fazendo o seu caminho rumo à comodidade alcatifada do PS. Chegou a presidente, da camara primeiro, da república depois, mas a consideração pelos resultados eleitorais "contra natura" continuou a mesma.

Detestou Durão Barroso, mas nada pôde fazer. Suspirou com a sua partida, mas detestava igualmente Ferro Rodrigues, incapaz de ganhar as malfadadas eloições a uma carpa morta há três dias. Cinicamente, havia que aguentar o Governo da coligação, por acaso com apoio de maioria absoluta parlamentar, até o PS resolver o seu "problema".

O PS resolveu o seu "problema", provavelmente instado por Belém, e deu um valente pontapé no traseiro de Ferro Rodrigues, acolhendo em extâse o menino d'oiro da Covilhã. Sócrates é entronizado para repôr a normalidade, levar urgentemente o PS de volta ao aparelho do Estado, ao exercício do poder. 

Para quem tivesse escrúpulos democráticos ou institucionais, dissolver um Governo empossado há pouco tempo e com maioria absoluta no Parlamento, com pretextos de pacotilha e um timing absolutamente escandaloso de tão evidente, seria muito, muitíssimo mau; para Sampaio foi normal, está-lhe no sangue. E os camaradas ficaram muito satisfeitos.

Em resumo, Sampaio é o homem que deu o golpe de estado constitucional que retirou Pedro Santana Lopes para lá pôr o seu amigo José Sócrates.

Pode não se gostar de Pedro Santana Lopes, mas olhando para Sócrates e para tudo o que fez a Portugal e aos Portugueses, podemos agradecer a Jorge Sampaio o servicinho que fez à república que tanto o emociona.

publicado por Raul Almeida às 01:35
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Segunda-feira, 1 de Dezembro de 2014

Nódoas.

 

Tudo indica que Sampaio da Nódoa sonha com o cargo que foi da Nódoa do Sampaio, não é?

publicado por Raul Almeida às 00:18
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Domingo, 23 de Novembro de 2014

Dr. Costa, agora que já não vai ser PM, resolva qualquer coisinha em Lisboa

Não sou especialista em arquitectura, não sei quanto "valia" esta minha memória da baixa lisboeta. Sei que era um dos pontos de referência das minhas vindas a Lisboa em pequenito, era a garantia que as cinco horas de viagem tinham mesmo chegado ao fim. Só acreditei mesmo que George Lazanby estivera em Lisboa ao serviço de Sua Majestade, quando parou ali em frente a fumar um cigarro com o olhar a vagear entre a Suiça, o Teatro D. Maria II e o Nicola.

Hoje, parte-me o coração e o gosto ver ali o estendal achinesado duma qualquer feira de tecidos. Tenho pena de não ter sobrado nenhum intelectual alfacinha das manifes e associações do Londres ou da Sá da Costa para acampar em greve de fome em frente aos azulejos amarelos do Rossio. Onde estavam o Zé do Túnel, os arquitectos do municipio, o presidente António Costa? Como é possível semelhante aberração num dos pontos mais nobres da cidade?

Se a paragem de George Lazenby, e com ele do mundo, não é suficiente; que se invoque ter sido no Diário de Notícias, que criou e deu nome à livraria, que o Grande Saramago foi pressuroso censor nos idos do prec. Qualquer motivo será bom! Como está, é que não!

publicado por Raul Almeida às 01:38
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Quarta-feira, 1 de Outubro de 2014

...

Estou danado. Estou danado porque o meu Sporting jogou que se fartou e, ainda assim, perdeu. Ainda por cima, ouvidos os comentadores, não sei se perdeu com o Chélce, com o Chelsssss ou com o Chélcia. Irra!

publicado por Raul Almeida às 01:18
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Quinta-feira, 20 de Fevereiro de 2014

Tourada

Se um político competente vai desempenhar funções numa qualquer instituição internacional, logo dizem que é um belíssimo "tacho". Se tiver idade para isso, e acumular com uma reforma, passa de imediato a "ladrão".
Se um cançonetista sem criatividade nem público, vai dirigir uma instituição noutro país, é vitima de um "governo desumano"! Se acumular o seu vencimento com duas reformas, as reformas são escandalosamente baixas. Se as reformas são baixas, a culpa é do Governo, não é da gestão irresponsável da carreira contributiva.

publicado por Raul Almeida às 16:02
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Terça-feira, 18 de Fevereiro de 2014

...

Na tabacaria, entre a muita boa imprensa que ainda há disponível, dão invariável destaque às publicações ditas cor de rosa (porquê cor de rosa? há tons de rosa que nem são tão pirosos assim).

Impressionou-me ver nas capas de duas dessas publicações uns personagens sinistros a fazerem o trading da sua própria morte.

Respeito sempre as opções pessoais de cada um, não é o que está em causa. Nesse respeito, cabe contudo, a incompreensão pela publicidade e aproveitamento que se possa fazer de momentos que considero os mais íntimos e reservados que teremos de enfrentar. Não me venham com lições de vida ou de morte, não tardará e teremos death coaching; cada um morre pessoal e intransmissivelmente a sua própria morte, cada um terá de encontrar por si e em si as respostas a essa circunstância inescapável. 
Escolher partilhar estes momentos entre os arrufos da Lucy e do Djaló e as novas cenas de sexo na "casa", dá uma de duas impressões: uma solidão e medo devastadores, em que tudo vale para chamar à atenção, ou o tal trading macabro, em que tudo se vende até ao último suspiro.
Pior mesmo, só o enorme bando necrófilo que consome ávido a infindável miséria alheia.

publicado por Raul Almeida às 00:33
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Quinta-feira, 17 de Outubro de 2013

Numa de Lauro Dérmio

Não gosto de afirmações definitivas, mas, mesmo correndo o risco de me surpreender positivamente com mais algum filme, dava já hoje os óscares de melhor actriz e melhor actor a Cate Blanchett e a Michael Douglas.

Behind the candelabra é o segundo filme que vejo esta temporada. Soderberg dirige Douglas e Damon magistralmente, e Douglas brilha como Liberace brilhou em Vegas.

Impressionou-me ver como Soderberg, à semelhança de Stone em Wall St. com o dinheiro, retrata o sexo como exercício de poder, como afirmação do inner self. Curiosamente, Gordon Gekko esteve lá o tempo todo, na manipulação, na sedução, na implacabilidade.

Menos exploradas, embora presentes, são as enormes contradições entre a persona pública de Liberace e a sua vida privada em escolhida reclusão.

Também se secundariza a perseguição post mortem pelo procurador sedento do sangue infectado de Liberace, uma das histórias mais sórdidas do sistema americano.

Assumidamente entre o biopic e uma ficção moderada, um grande filme. Ide ver!

publicado por Raul Almeida às 00:55
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Quarta-feira, 4 de Setembro de 2013

Fim de festa

Agora que as férias se finaram, resolvi ir procurar uma prosa antiga que se renova todos os anos.

Como me disse um dia o meu amigo LP, "Moledo é a praia onde o Inverno vai passar o Verão"! Mas isso é para um lisboeta ignorante das maravilhas minhotas ou para um parolo, como eu, que ainda não atingiu a essência da coisa. Moledo é um fenómeno muito particular, paraíso do antes quebrar, que torcer. 

Para os indefectíveis de Moledo, o tempo nunca está mau; corre uma brisa se umas casas se destelham, sentem uma certa humidade ao quarto dia de chuva intensa. É frequente ouvir no café que a praia esteve optima para ler um livro com calma, traduzindo: as folhas do jornal voariam e não havia ninguém que pudesse incomodar num raio de 100 metros, onde volta a haver outro encasacado a sacudir a areia que voa das páginas de um qualquer livro...
Se temos a sorte de chegar num dos únicos dias de sol, toda a gente nos garantirá que foi assim todo o verão, que não percebem o que estivemos a fazer no Algarve. Aliás estiveram uns dias de praia fora de série até à véspera da nossa chegada e voltarão a estar no dia a seguir à nossa partida; é um azar que se repete ano após ano, religiosamente.
Se nos queixamos da água gelada, atiram-nos com o iodo á cara.
Não há argumento que valha contra Moledo. Se o Algarve tem Soares e Cavaco, Moledo tem Barroso que é pior que os dois juntos, afirmam orgulhosos os veraneantes do frio!
Há depois alguns fenómenos interessantes. Nunca ninguém foi pela primeira vez para Moledo; toda a gente vai desde sempre, desde antes de ser moda!
Toda a gente em Moledo conhece toda a gente, toda a gente tem imensos primos e tias e tios com garbosos petit-noms. Toda a gente adora dizer "fomos todos", "estivemos todos", "vamos todos", é tudo muito giro e em grupo, ainda que o grupo não exceda o par... As tias falam todas muito grosso, fumam imenso e disfarçam mal uma certa pelintrice.
Por fim, duas pragas de Moledo. Pobre de quem tem casa em Moledo, há centenas de lapas que acham o máximo vir de Lisboa, Porto e outros pontos do país para a casa dos primos, dos tios ou de qualquer vitima incauta. Se em qualquer lado isto se chama o oporunismo do pelintra sem vergonha, em Moledo, pelo contrário, é tradição, é bem.
A outra praga é o clube de Moledo. Não pelo Clube em si, espaço aprazível, a lembrar os clubes e assembleias que as outras praias do norte deixaram morrer. Mas não há pachorra para o arrivismo com que tantos enchem a boca e o tornam o centro da conversa, é o wannabe de 80% dos veraneantes. Há os do clube e os que querem ser do clube. Os 20% restantes são alienígenas.
E é isto, a essência de Moledo é feita de gente que abomina a praia e o verão, e dos outros, os que gostando de armar ao pingarelho, não tem dinheiro para ir para o Algarve!
E lá passei, mais uma vez, uns belos e divertidissimos dias de férias. Vá-se lá saber porquê!
publicado por Raul Almeida às 02:55
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Segunda-feira, 28 de Janeiro de 2013

Quando os lobos uivam

Para o primeiro post nesta ilustre casa, tinha de escolher matéria pacifica. Vai daí, e porque ainda ontem abri mão de duas horas e de mais de um conto e duzentos, falarei sobre o filme da polémica: Zero Dark Thirty.

Kathryn Bigelow fez um filme muito competente, onde nos conta tudo, desde o high tech, até às simulações de afogamento. Conta-nos todos os passos que foram dados para chegar a Ben Laden. Todos os passos que tomaram conta da vida da mulher que o perseguiu e o encontrou.

Perante isto, perante a história e os factos que a compõem, apareceu Naomi Wolf, um misto de Carla Alves e Maria Teresa Horta com uma cara laroca, ícone liberal das élites democráticas, que vem a público desfazer Bigelow.

Em modo epistolar, lança-se como um lobo à carótida de Bigelow. Chama-lhe a Riefenstahl da administração Bush e dos poderes ocultos. Acusa-a de serva da tortura e dos agentes que a praticaram. Julga-a sumariamente por colaboracionismo com a CIA, os militares, os poderes ocultos e o pior de tudo: os Republicanos.

Não escondo a minha preferência pelos Democratas, nem o meu entusiasmo por Obama, malgré tout. No filme, as mudanças políticas são bem retratadas, são encaradas tal qual são: o tempo traz a sucessão de diferentes tempos políticos, e o de Obama é necessariamente diferente do de Bush, o mundo é diferente em Obama. Bigelow constata este facto, mostra-nos uma administração escaldada pela "armas de destruição massiva no Iraque", mais prudente, mais insegura na aproximação, mais observada por um mundo que já guardou na gaveta da história o horror do 9/11. Obama e os seus homens são aqui muito bem tratados. Não percebo o problema de Wolf.

A tortura domina o inicio do filme, do processo. Deu resultado. A crueza com que nos é mostrada é semelhante à Paixão de Gibson; não é um filme para os mais sensíveis. A componente multifacetada da relação inquiridor-torturado é muito bem explorada e em momento algum somos empurrados para a simples dialética do bom policia e do bandido.

Entre outras coisas, se há uma particularmente bem sucedida no filme, é despertar-nos o dilema moral e ético da tortura. Não é a situação fácil do inocente torturado, mas a dificuldade do confronto intimo de cada um de nós com a eficácia da tortura.

Wolf não quis ver nada disto, aliás, não quis ver nada; quis pendurar-se num enorme sucesso e ser falada às suas custas.

Mas Wolf tem virtude no que faz, lembra-nos que não é só neste rectangulozinho nosso que há gente assim, lembra-nos que na vida para cada Sarah Palin há uma Naomi Wolf.

 

publicado por Raul Almeida às 20:43
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