Porque é que o problema nunca se colocou antes, se o que não falta são pessoas de cruz ao pescoço? ̶ pergunta a senhora, e vai respondendo que "a jurisprudência europeia permite que se consagre a ideia de que há religiões 'nossas', 'neutras', e as outras. A xenofobia pode incubar onde menos se espera".
Neste caso, a xenofobia incubou, pelos vistos, no tribunal de Justiça da União Europeia. Fernanda Câncio não tem dúvidas - nunca tem, Deus a abençoe, que eu não posso ̶ e vai daí saem mais uns juízes xenófobos, a juntar à mole imensa, e crescente, dos cidadãos que no Ocidente encaram os muçulmanos, a religião deles, as igrejas deles, os hábitos e os símbolos, como uma ameaça.
O tribunal, é claro, não hierarquizou as religiões, nem podia, porque a União é laica e todas as religiões estão cobertas pela liberdade de culto. Limitou-se a garantir que "as empresas têm o direito de, em nome de uma política de 'neutralidade' face aos clientes, proibir aos empregados que lidem com o público a exibição de quaisquer símbolos religiosos".
Bem visto. Porque hoje impor-se-ia aos patrões que aceitassem o hijab, em nome da liberdade de culto. E amanhã, à boleia da mesma liberdade, o xador ou a burca, bem como as paragens rituais para a oração, em locais separados conforme os sexos, que as imagens das fiéis de rabo para o ar impediriam decerto a unção deles. Depois, é apenas uma questão de tempo e de quantidade (e no que toca à quantidade convém lembrar que as comunidades muçulmanas têm uma taxa de natalidade várias vezes superior às das ocidentais que imprudentemente as acolhem) até que a religião muçulmana, afirmada em nome da nossa liberdade, a anule, por dela ter um entendimento diferente.
Temos um problema parecido com a democracia e os comunistas: estes reclamam, e bem, todas as liberdades burguesas, até que conquistam o poder. Logo a seguir, a única liberdade consentida é a de pensar o que pensa o vizinho, dizer o que diz o controleiro do comité de vigilância cidadã, e fazer o que o Partido manda. Com a diferença de que os comunistas não se reproduzem a taxas diferentes das dos restantes cidadãos, as suas quantidades são manejáveis sem perigo fora de situações revolucionárias, e a democracia tem provado ser robusta o bastante para conviver com os seus inimigos.
Ser realista em relação ao perigo islâmico quer dizer não ignorar o que disse, num deslize de sinceridade, este paxá: as famílias turcas exiladas devem ter, pelo menos, cinco filhos.
Fernanda Câncio julga, coitadinha, que o véu islâmico tem a mesma importância que uma blusa, um top ou um boné; e que as mulheres islâmicas teimam nas toilettes que a tradição lhes impõe por acharem que lhes fica bem.
Eu quero que Fernanda vista o que ache que vai com ela; que, se tiver uma amiga ou amigo que use um crucifixo ao pescoço, ou uma quipá na cabeça, se lembre que esse amigo ou amiga, bem como as igrejas que esses símbolos representam, não lhe negam o direito de ser ateia ou agnóstica; e que abunde no asneirol, como é seu hábito, com toda a liberdade.
Em troca desta generosidade Câncio trata as pessoas que pensam como eu - trata-me, portanto, a mim! - de xenófobo e trumpista.
Não sou católico mas a caridade cristã não me fica mal: perdoo-lhe. E o que é mais (conto com isto para desconto dos meus pecados) sem sequer ter a esperança de que o Espírito Santo a ilumine, infundindo algum senso naquela cabeça socialista.
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