O avião partiu às 23H30 e chegou ao aeroporto de partida às 07H10, ou seja, voou durante 7 horas e 40 minutos. Os aldrabões do gabinete de relações públicas da TAP informaram que a meia-volta se fez “apenas por uma questão de segurança” e que a aeronave aterrou em Lisboa “com toda a tranquilidade”, sem que todavia ninguém lhes tivessem perguntado se a bordo vinha Paulo Bento.
O Presidente da Companhia, porém, num desabafo de louvável candidez, declarou ao Expresso que "o avião poderia ter prosseguido até Luanda mas que não o fez porque a reparação do problema técnico detectado 'seria mais rápida' em Lisboa".
Mais adiante no artigo Fernando Pinto esclarece que "a decisão de regresso foi tomada no designado 'ponto de retorno' do voo e resultou de uma decisão ponderada entre os tripulantes e a equipa de manutenção de Lisboa, porque se o avião tivesse aterrado em Luanda teria de aguardar pelo menos três dias até concluir a reparação".
Desculpa, estimado Nandinho, mas a decisão que resultou de uma decisão foi tudo menos ponderada: entre causar inomináveis transtornos a 260 passageiros e o custo da imobilização de um avião por três dias, a companhia optou pela poupança. Só que não há qualquer poupança quando uma empresa de aviação trata assim os seus clientes, que são - e não os aviões - o seu principal activo. Claro que ignoro se outros passageiros e outros voos não poderiam ser prejudicados com a imobilização do avião. Mas uma coisa é receber um aviso, tempestivo e bem explicadinho, do adiamento de um voo futuro; e outra andar a passear pessoas, durante horas e sem propósito nem explicações sérias, por cima do Atlântico.
Eu sou velho, céptico e desconfiado. E como a privatização da TAP já pelo menos uma vez levantou voo e, tal como sucedeu nesta viagem, regressou ao ponto de partida, pergunto, Nandinho: Não andará por aí um vigarista a plantar notícias nos jornais, hoje uns parafusos desapertados, amanhã um rolamento, a ver se o preço da privatização fica mais barato. Ou, pior, não estará a manutenção a ser descurada de propósito?
Tu abre-me esses olhos, rapaz.
A menos, claro, que já os tenhas bem abertos.
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