As teorias de Lombroso, não me canso de dizer, foram arrumadas na prateleira com demasiada precipitação: não é difícil imaginar Jerónimo, com a sua cara talhada a escopo e os cantos da boca descaídos, ordenando com voz trémula e uma lágrima furtiva a escorrer pela pele curtida dos comícios a prisão de ex-camaradas dissidentes, se visse a luz do dia a revolução comunista dos seus sonhos; nem se requeria um excesso de argúcia para detectar no rictus do malogrado ministro Varoufakis o ego monstruoso do engenheiro social que, acreditando conhecer cientificamente o que é melhor para o seu povo, engendra um esquema clandestino para fazer o contrário do que o seu mandato lhe impunha; e a papada de Guterres, o traço estreito da boca de Cavaco, os olhos de goraz de Fazenda, o capacete de Roseta, o nariz de Sócrates, a adiposidade supranumerária de Costa, eram e são outros tantos traços indicativos de malformações mentais que a ciência política ignora sobranceiramente.
Sucede que o ministro Jorge Moreira da Silva tem uma cara irremediável de menino estudioso, daquela variedade que conhecemos nos bancos do liceu: marrão, teimoso, graxista dos professores, inteligente o bastante para ser o melhor da turma e burro o suficiente para a vida lhe passar ao lado. O destino natural destes deficientes é chegarem a catedráticos, produzirem uma obra completamente falha da mais leve centelha de originalidade, e jubilarem-se um dia no meio da consideração geral.
Infelizmente, em vez de se limitar a chatear os alunos com as suas fantasias bem-pensantes na área das alterações climáticas e energia, e encher os ares de Co2 a correr de avião para cimeiras ecológicas, Jorge tem uma carreira política. E resolveu, em plena campanha eleitoral, pôr em prática o que se dizia no Compromisso para o Crescimento Verde, um catálogo asnático de modernices, na parte em que estatuía: (...) "até 2020, introduzir 1250 viaturas elétricas e híbridas plug-in nos serviços do Estado" (...)
Aí está. Se a notícia não tiver sido, como é frequente, redigida com as patas, só para estudos são três milhões. E aos inúteis paliteiros de recarga eléctrica que Sócrates espalhou pelo país, e que apodrecem ao sol e à chuva à espera do totó que vem recarregar o seu carrinho de faz-de-conta, irão juntar-se outros milhares.
Talvez, nesta onda de fervor religioso pró-ambiente que os campus das universidades originaram, travestindo hipóteses em certezas, e agendas políticas de esquerda intervencionista em soluções, possa haver lugar para alguma sanidade, lembrando:
O modo como os funcionários se deslocam de e para o trabalho não é da tua conta, Jorge, é da conta deles. Se te achas no direito de decidir na matéria, cabe perguntar o que te impede de, amanhã, te lembrares, em nome da igualdade ou outro virtuoso pretexto, impôr as mesmas soluções aos restantes trabalhadores e seus patrões;
Se os carros eléctricos tiverem futuro, o mercado dirá. O que tu achas na matéria só terá interesse se quiseres pessoalmente investir em alguns empreendedores que querem revolucionar os transportes. De empresários visionários precisamos muito - mas com capital e crédito deles.
A ideia é poupar? E adquirindo 1200 carros eléctricos poupam-se 50 milhões exactamente como? Olha, Jorginho, do que não há falta é de empresários que sabem, de poupanças e negócios, mais a dormir do que tu alguma vez saberás acordado. Se a iniciativa fosse boa, já havia milhares de carros eléctricos a circular. E, na verdade, de certo modo, há, alguns: tuquetuques (e mesmo destes só os que não têm motor de motorizada).
Renovo o conselho que atirei ao vento há tempos, não apenas para substituir 1250 carros mas poupar, realmente poupar: eliminar, até 2020, 12500 viaturas nos serviços do Estado. E, não vá algum funcionário ficar apeado, todas as viaturas eliminadas devem pertencer a serviços a extinguir. Pode-se começar pelo Tribunal Constitucional e pelo próprio Ministério do Ambiente e um terço dos municípios. Deve sobrar.
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